O Psicopata. Um “Ser” com várias facetas na sociedade.

“O indivíduo psicopata-perverso é uma pessoa que atua somente em benefício e interesse próprio, não se importa com os meios utilizados para alcançar os seus objetivos”. E o que mais intriga na conduta psicopática, é que estes, são indivíduos desprovidos do sentimento de culpa e dificilmente estabelecem laços afetivos com outra pessoa, quando o fazem, é meramente, por puro interesse. 

Os psicopatas geralmente falam muito, expressam-se com encanto, têm respostas espertas e contam histórias, pouco evidentes, mas convincentes, que lhes deixam em uma boa situação perante as pessoas. Não raro, o observador perspicaz vê que esses sujeitos são muito superficiais e nada sinceros, como se estivessem lendo mecanicamente um texto.

Relatam conhecimentos atrativos, mas para os quais não têm preparo, como poesia, literatura, sociologia, filosofia, psicanálise, psiquiatria, economia ou diversos outros assuntos. Não se preocupam que as manifestações de suas histórias sejam falsas, pois é um acontecimento que nem sempre é fácil de ser percebido, considerando o desembaraço e a imaginação com que envolvem os seus relatos.

“O psicopata tem uma autoestima muito elevada, um grande narcisismo, egocentrismo, megalomania fora do comum, uma sensação onipresente de que pode tudo”. Ou seja, sente-se o “centro do universo” e se crê um ser superior regido por suas próprias normas. É compreensível que, com tal percepção de si mesmo, pareça diante do observador como altamente arrogante, dominante e muito seguro de tudo o que diz.

Fica evidente que ele procura controlar os outros e parece incapaz de compreender que haja pessoas com opiniões diferentes das suas, haja vista não há o que argumentar com esse perfil, sendo ele sempre o senhor das suas razões. Um dos traços mais evidentes do psicopata-perverso é o transtorno narcisista como foi mencionado acima: “Quem não tem vaidade não é normal”, afirmou o psiquiatra, psicanalista Guido Palomba. No entanto, o exagero em querer se sentir superior e a necessidade em rebaixar os demais para se sentir bem é um transtorno de personalidade. “Se caracteriza pelo culto à beleza e à aparência”, descreveu.

Alguém assim não precisa envolver-se em metas realistas de longo prazo e, quando estabelece um objetivo, logo se vê que não tem as qualidades necessárias para alcançá-las, nem sabe, na verdade, que é preciso fazer algo. Ele de fato acredita que suas habilidades lhes permitirão conseguir qualquer coisa. Mentir, enganar e manipular são adjetivos mais do que natural para o psicopata. Quando é perceptível à sua cilada, não se embaraçam; simplesmente mudam a sua história ou distorcem os fatos para que se encaixem novamente no seu discurso.

A convicção com a qual o psicopata-perverso argumenta a sua história vem acompanhada da crença de que o mundo se encontra dividido em dois grupos: os que ganham e os que perdem, de tal modo que lhe parece um absurdo não se aproveitar das fraquezas alheias.”

Os psicopatas parecem possuir uma incapacidade flagrante para sentir de modo profundo a categoria completa das emoções humanas. “Às vezes, ao lado de uma aparência fria e distante, manifestam episódios dramáticos de afetividade, que nada mais é que pequenas exibições de falsas emoções.”

Por que, então, podemos perguntar: uma pessoa assim se casa e constitui uma família? “As razões variam, de maneira evidente; mas em geral a resposta é que, quando fez a opção de casar-se ou ter filhos, naquele momento era uma escolha que servia a seus fins imediatos e acerca da qual não adquiriu nenhum tipo de responsabilidade e/ou dissimulam responsabilidade frente à sociedade, para disfarçar as suas facetas.” Na realidade, os psicopatas usam metáforas, já que, em seu comportamento enganoso e manipulador, a linguagem florida e figurativa joga uma parte importante.

Os psicopatas têm uma inquestionável habilidade de estar rodeado de pessoas mau caráter, que lhes facilitam realizar suas ambições.

“O ser humano está cada vez mais isolado, mais sozinho, apesar de poder se comunicar quase instantaneamente com qualquer parte do mundo. Caso aprenda a viver sem necessitar dos outros, aprenderá a não se preocupar com os outros, um traço básico na personalidade psicopática.”

A conclusão é uma população que alberga, cada vez mais, jovens transformados em adultos sem um claro código de valores, que assumem o olhar cínico e desconfiado de uma sociedade em que o sucesso material talvez seja o único bem seguro e tangível. E, fatidicamente, é assim que caminha a humanidade.

O psicopata está livre das alucinações e dos delírios que constituem os sintomas mais espetaculares da esquizofrenia, ou seja, da estrutura psicótica, que sofre com delírios e alucinações. Por exemplo. Os esquizofrênicos vivem numa “realidade a parte, num mundo fora de si” ou em ruptura com o “mundo verdadeiro”, e, exatamente por isso, não têm noção do que fazem. Já os psicopatas aparentam viver uma normalidade, usam uma “máscara de sanidade”, tornando mais difícil de ser reconhecido e, provavelmente, mais perigoso.

“A característica do psicopata é não demonstrar remorso algum, nem vergonha, quando elabora uma situação que ao resto dos mortais causaria espanto”. Os psicopatas são embotados, ausência total de sentimentos. Eles são razão e passam longe da emoção. Portanto, o cálculo para o psicopata é: 100% razão e 0% emoção.

De acordo com o psiquiatra forense Guido Palomba, um indivíduo com transtorno de personalidade tem três defeitos básicos: são altamente egoístas; não se arrependem dos atos; têm valores morais distorcidos; gostam ou não se incomodam com o sofrimento alheio. “Aparentemente, a pessoa é normal e lúcida, mas tem uma conduta deformada”, disse. “O problema foi descrito pela primeira vez em 1835, como insanidade moral. Ao longo dos anos, já foi chamado de psicopatia, sociopatia, condutopatia e transtorno de personalidade”, lembrou Palomba.

A deformação de conduta pode ou não se manifestar, no entanto, não existe cura para o problema, segundo Palomba. “Existe tratamento para controlar”, afirmou o psiquiatra. De acordo com o psiquiatra e psicanalista da Sociedade Brasileira de Psicanálise Leda Beolchi Spessoto, o indivíduo pode ter predisposição aos transtornos, mas o problema está ligado ao ambiente em que ele vive quando criança. “Os traços se formam na infância, mas devem ser bem analisados na adolescência”, disse.

É natural e compreensível que os pais de jovens com características psicopáticas se questionem quase sempre e até com certo desespero: “O que nós fizemos de errado para que nosso filho seja assim?” Os pais se sentem culpados por acharem que falharam na educação dos seus filhos. Isso é um engano! É fato corriqueiro de que a educação, a estrutura familiar e o ambiente social influenciam na formação da personalidade de um indivíduo e na maneira como ele se relaciona com o mundo. No entanto, esses fatores por si só não são capazes de transformar ninguém em psicopata-perverso.

Então, podemos concluir, que a psicopatia é um quadro que começa a se definir na infância. Segundo a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva: A Medicina só pode dar o diagnóstico de psicopatia a partir dos 18 anos. No entanto, ninguém se transforma em psicopata da noite para o dia. O indivíduo já nasce com essa predisposição. É uma condição com forte marcação genética, cujo cérebro é diferenciado das demais pessoas.

Vale ressaltar que para a psicanálise este transtorno de conduta tem a definição de perverso e a psiquiatria o demarca como psicopata. Mas o resultado final é o mesmo.  Essas características mencionadas são apenas genéricas; para um diagnóstico exato, só pode ser firmado por especialistas no assunto. Além do mais, o leitor deve atentar para a frequência e a intensidade com as quais essas características se manifestam.