“A máscara que usamos no Facebook é a mesma que usamos na vida”, diz Calligaris.
Contardo Calligaris (Milão, 1948) é um psicanalista italiano radicado no Brasil. É colunista da Folha de S. Paulo.
O psicanalista Contardo Calligaris afirmou, em palestra no InfoTrends, que não acredita que as mídias sociais tenham inventado um novo tipo de relação social ou mesmo a subjetividade nos relacionamentos.
Para Calligaris, as novas tecnologias ainda precisam produzir mudanças objetivas na sociedade para marcarem um novo tipo de relação. “O Facebook facilita a maneira de se relacionar, mas que já era a maneira de ser própria da modernidade ocidental desde o início do século 20”, afirmou.
O psicanalista acrescenta que as críticas às relações virtuais são muito questionáveis, pois mesmo os relacionamentos amorosos ou conversas em uma mesa de bar sempre foram virtuais. “As pessoas não se apaixonam por pessoas reais, desejamos uma fantasia criada por nós mesmos. Aproveitamos a presença do outro para tirar proveito dessa fantasia”, explica. “O amor sempre foi um baile de máscaras e quando essas máscaras caem nós estranhamos o resultado”.
Segundo Calligaris, o Facebook e as redes sociais instituíram um tipo de comportamento típico das sociedades narcisistas, uma maneira de se relacionar na qual a pessoa só existe sob o olhar dos outros. “No passado éramos a herança de nossas origens e só a partir do século 19 a questão de saber quem somos depende do olhar dos outros: os outros veem em mim quem eu sou”, disse. “Com isso ganhamos mais liberdade, deixamos de ser escravos do que foram nossos antepassados”, lembrou.
Para o psicanalista, no entanto, essa “liberdade” tornou-se um novo tipo de escravidão. “As pessoas passaram a demonstrar uma enorme necessidade de serem notadas e buscam sempre a aprovação do outro”, disse. Segundo Calligaris, o Facebook expressa muito bem essa característica da sociedade atual. “Não devemos ser nostálgicos e imaginar uma sociedade diferente.”
O psicanalista comparou as redes sociais com a imagem da perfeição. “É o mundo da margarina”, diz. Para Calligaris, as pessoas no Facebook têm uma enorme necessidade de demonstrar que são felizes. “Assim se mostram também como vencedores. Basta ver as fotos. É difícil ver alguém que não está sorrindo”.
De acordo com Calligaris, essa ideia de felicidade é muito recente na história. Uma pesquisa de 2011 diz que existe uma relação clara entre valorizar e conseguir. Se você valoriza a possibilidade de ser dono de sua moradia, este é o primeiro passo para conseguir. Mas existe uma exceção paradoxal.
“Quanto mais você valoriza a felicidade, mais infeliz você vai ser. Aparentemente a felicidade é o único caso em que a valorização não produz a facilitação”, explicou. “A ideia de manter a máscara da felicidade não veio com o Facebook, mas certamente as mídias sociais herdaram essa tradição.”
No entendimento do psicanalista, a procura instantânea pela felicidade não existe e não passa de uma ideia de marketing que começou no século 20. Ele acredita que as pessoas desejam ter uma vida interessante, com experiências intensas e mesmo desagradáveis. “A ideia de que a felicidade é programada, aos meus olhos, é uma ideia fajuta.”
“Se por um lado há um esforço para parecer sorridente, quando começamos a dialogar com alguém e achamos essa relação interessante, então paramos de tentar manter essa máscara de felicidade, pois temos a impressão de que alguma coisa poderá ser trocada com aquela pessoa”,diz.
“Os críticos dizem assim: vocês ficam em casa postando enquanto poderiam sair e encontrar pessoas reais. Mas isso realmente acontece sempre? Toda vez que você sai rola uma integração com as pessoas no bar? Isso não existe. Não nos apaixonamos ou conhecemos pessoas interessantes todo dia. É uma hipervalorização desta ideia”, critica.
Para o psicanalista, as relações já eram assim antes do computador e nada mudou após isso. “Se você tem dois bons amigos, então você é uma pessoa bastante sortuda”, afirma. Segundo Calligaris, nós somos quem nós conseguimos ser aos olhos dos outros e, enquanto trabalhamos em nossas páginas de perfil, significa que também trabalhamos nossa composição como pessoa.
“Não tem sentido viver na sociedade contemporânea sem pensar quem você é para os outros. O Facebook é um efeito disso. A competição às vezes custa um tempo e pode ser terapêutica”.
Texto: Monica Campi (Info Online).
Concordo com o pensamento do psicanalista.
Calligaris: esclarece a verdade sobre a máscara e/ou as máscaras que usamos no mundo virtual. Acreditando que às pessoas que estão na virtualidade não são diferentes no mundo real. Esse raciocínio nos leva a crer que, as pessoas são no virtual o que na verdade são em essência. No tete a tete até conseguem frear mais seus impulsos, entretanto, as máscaras não se sustentam por muito tempo. O próprio inconsciente não nos deixa levar uma mentira tão longe, a verdade caí do inconsciente que é atemporal, não conseguimos ser conscientes por todo o tempo.
Todo mundo sempre diz que prefere ouvir a verdade independente do quão ruim ela seja, aliás, todos acham que por pior que seja a verdade ela sempre será menos pior do que uma dolorosa mentira. Certo? Não sei. A verdade é que todos dizem que preferem a verdade, mas na verdade convivem bem melhor com a ideia de uma felicidade idealizada e ilusória.
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katia antonio
Parabéns Luzziane, vc mais uma vez arrasa com suas matérias ….verdade estas redes acaba por deixar o ser sem personalidade propria ! bjos!!
michele angelillo
L’usare una maschera ,per nascondere quello che si e’ in realta’ interessa la maggior parte delle persone che ci circonda.L’essere se stessi presuppone sempre un senso di liberta’ molto grande.La liberta’ di essere se stessi,nel bene e nel male,indipendentemente dal giudizio,dalla valutazione degli altri.questo e’ un punto di arrivo,dopo un lavoro duro,impegnativo,di grande introspezione.E questo e’ raro.
Nei rapporti virtuali cosi’ frequenti oggi,il non essere se stessi e assumere spoglie diverse e’ molto semplice.Un po’ per mostrarsi migliori o differenti da quello che si e’,un po’ per gioco,il fenomeno colpisce la maggior parte di utilizzatori del virtuale.
La societa’ cambia.cambiano le abitudini.Quello che a noi sembra anormale oggi non lo sara’ tra qualche anno.Forse il reale cedera’ sempre piu’ spazio al virtuale.Ma questo ci allontanera’ sempre piu’ da essere persone,dal capire di piu’ noi stessi e di fatto ci fara’ essere realmente piu’ soli.
Grazie a Luzziane per questi continui spunti di pensiero.
Clara Piquet
Nao chamo de “mascaras” certas atitudes que temos perante a sociedade!
Passamos as vzs uma imagem diferente do que somos porque somos seres mutantes…mudamos de gostos e de opiniões e representamos papeis diferentes no mesmo palco onde a vida e representada, mas continuamos com a nossa essência intocada!
Paty Leal
Atualmente, o estado de “felicidade” deixou de ser resultado natural de nossas escolhas e ações. Tudo hoje aponta para uma obrigação de sermos felizes o tempo todo. Ter momentos de felicidade é ótimo, no entanto, Calligaris está mais que certo… Não existe felicidade o tempo todo, isso é ilusão minha gente! Acorda. É como aponta muito bem a psicanalista, Luzziane Soprani somos no virtual o que somos em essência… Adorei o texto!
Rosa Diamand Tenenbojm
Tema fantástico e atual. Parabéns pela escolha acertada: Calligaris é bom demais!
Rosa Diamand Tenenbojm
Tema fantástico. Calligaris é bom demais!
Isabel Esgueira
Parabéns Luzziane! Texto maravilhoso este que veio de encontro com o que já estava sentindo, vezes sem conta e já tendo certamento o conhecimento interior de que o que acontece é isto mesmo!… Por vezes, quando não me recolho e, tomo coragem e parto para a partilha sinto que é algo de mais profundo, intinseco e espontâneo que se manifesta no comunicar, ficando por vezes até admirada com a capacidade de compreensão e resposta tão sincera com que me exponho. Caem as máscaras e não tento agradar embora vá buscar o que de melhor existe em mim para me poder exprimir! Esta é a minha experiência e adorei mais uma vez o tema e a inteligência, a subtileza e conhecimento com que nos é acedido. Beijinhos
Isabel
cristinaeutrópio
Não vejo as mascaras sociais como mentiras! São papéis necessários . A questão está na proporção que elas assumem na vida de uma pessoa.Assim também como não vejo o fato de postar fotos de momentos felizes como uma necessidade de ser APENAS feliz. Vejo como uma necessidade de mostrar que também se é feliz, alimentar e valorizar esta possibilidade . O grande problema é quando isto passa a ser um modelo, um ideal, um padrão que nos distancia do outro lado que também faz parte da vida ou seja, as imperfeições, as dificuldades e limitações naturais de cada um de nós,criando uma expectativa de nós mesmos e do outro HUMANAMENTE impossível de se vivida.Buscar conviver com estas duas possibilidades reais e transitórias da vida, aceita-las como naturais e não negá-las é o grande exercicio de vida em qualquer lugar ou espaço de interação.
Douglas de Alencar
De fato, as várias maneiras através das quais praticamos a quase que unânime vocação da socialização, são formas bastante recorrentes no trato das civilizações no decurso do tempo. A técnica é elemento aditivo à forma como se espacializam e se materializam as interações, sendo o meio computacional mais um canal dentre o amplo conjunto dos instrumentos de interação entre pessoas.
A mutabilidade como fundamento da constituição do indivíduo é característica inquestionável do que é ser em sociedade. Portanto, o ponto nodal não seria o reconhecimento ou não da existência de um núcleo rígido ou mutável que constitui a conduta ou a formação ideológica do indivíduo, mas sim, o quão ciente de tais processos a pessoa se encontra, e qual sua capacidade de se reconhecer nesse evento contínuo. Seria o limiar entre a mutabilidade consciente e a alienação.
Parabéns pelo artigo, Luzziane.
Mel Bustamante
Que texto ótimo, Luz!
Concordo plenamente!
Muitas pessoas não vivem num mundo real, independente de estar ou não na rede… Vivemos e desejamos uma fantasia criada por nós mesmos… Isso não é novidade. Apenas, agora, está mais perceptível.
lucia cunha
Concordo em parte; há controvérsias…..
Por exemplo: a minha foto atual do Face, já tem 3 anos…..eu sou mesmo muito sorridente. Eu nem sonhava entrar no Facebook e minhas fotos sempre foram sorrindo; aliás, vivo sorrindo mesmo…..consigo rir até das minhas desgraças….???????
Conheço muitas pessoas falsas no Facebook; mas também tenho amigas e amigos sinceros até demais……tudo é relativo…..
Nenhum Psicólogo é dono da verdade…..com todo respeito!!!!!
Grande abraço.
lucia cunha
Não vejo as mascaras sociais como mentiras! São papéis necessários…A questão está na proporção que elas assumem na vida de uma pessoa.Assim também como não vejo o fato de postar fotos de momentos felizes como uma necessidade de ser APENAS feliz. Vejo como uma necessidade de mostrar que também se é feliz, alimentar e valorizar esta possibilidade . O grande problema é quando isto passa a ser um modelo, um ideal, um padrão que nos distancia do outro lado que também faz parte da vida ou seja, as imperfeições, as dificuldades e limitações naturais de cada um de nós,criando uma expectativa de nós mesmos e do outro HUMANAMENTE impossível de se vivida.Buscar conviver com estas duas possibilidades reais e transitórias da vida, aceita-las como naturais e não negá-las é o grande exercicio de vida em qualquer lugar ou espaço de interação.
Alexandre Coelho
Achei muito interessante a perspectiva traçada a respeito da rede social como máscara. Ainda mais: não uma nova máscara, mas a repetição daquela máscara que busca mostrar o nosso “melhor perfil” àqueles que não têm intimidade suficiente para conhecer o que temos mais dificuldade de “compartilhar”. Parabéns pela matéria, e convido a visitar o meu blog http://www.cadernodeterapia.wordpress.com
Alexandre
Donte
Adoro esse blog. A psicanalista, a blogueira e escritora, que ouso mencionar seu blog já é um blog de contos. Pois, traz excelentes artigos. Muito embora, sou fã do Calligares. A máscara que usamos? Quem não as usa? As pessoas não são o que parecem ser quando as conhecemos? Não. Acredito que na vida real ou na virtual, a máscara que usamos, se boa ou se ruim, ora ou outra cai por terra. Afinal, exemplos não nós falta! Por exemplo, aquele que prendeu tantos e tantos corruptos e ficou famoso? Pasme!, segue o mesmo roteiro dos réus/corruptos. As máscaras que outrora eram dos bons moços e boas moças, caíram por terra. Deuses da política foram destronados pela massa brasileira. Até mesmo para os pobres miseráveis, que os tinham como salvadores da pátria. Na verdade, em qualquer lugar temos profissionais com todos os tipos de máscaras. Voltando aquele que cumprindo a lei levou tantos corruptos para a prisão. Sim, ele mesmo, o famoso japonês da federaaal. Rsss. E se fosse só esse agente da federal… Ui… Em tese, as máscaras que usamos, diria Freud que são máscaras singulares, mas semelhantes. Mudam os personagens, mas as máscaras são produzidas em série!!!