“Não se abandona uma adúltera.”

Nelson Rodrigues, em “Perdoa-Me Por Me Traíres”

A culpa e o pecado são os maiores cúmplices do desejo – nesse sentido Nelson Rodrigues – está muito além da insensibilidade contemporânea que acredita, que “sexo livre” instiga o tesão. É da natureza humana desejar o que “dói”.

Portanto, o adúltero na obra de Nelson Rodrigues é mais do que isso. É um de seus arquétipos fundamentais para simbolizar a condição humana.

Abordaremos neste artigo a traição através da tecnologia. A tecnologia facilitou a vida das pessoas, mas também nos trouxe invasão de privacidade. Na questão amorosa a tecnologia tem sido um meio importante para as relações, inclusive, para aquelas que mantêm um relacionamento à distância. Celular, computador, Internet e todas as outras tecnologias que estão presentes no nosso dia a dia podem nos ajudar a tornar as relações mais vivas. Porém também podem trazer problemas.

São visíveis os tormentos que as tecnologias têm trazido à vida das pessoas, em especial à vida de um casal. Não é para menos. Esses meios de comunicação mudaram a maneira de como as pessoas estão se relacionando e, extrapolando, potenciais encontros, reencontros, flertes, traições, fantasias. Não raro, despertam o lado curioso, possessivo e ciumento que existe em cada um de nós.

Óbvio, sempre houve traição. O que tem se transformado, então? A questão é que ficou mais fácil e tentador cometer algum deslize, até para os mais “tímidos e/ou corretos”. Em contrapartida também se tornou mais fácil ser descoberto.
Sempre houve invasão da privacidade do companheiro. Mas, se antes se buscava investigar sua vida às escondidas, agora há meios inesgotáveis, mais eficazes e menos arriscados – podendo rastrear os passos dados pelas pessoas com as quais nos relacionamos. Por exemplo, o Facebook e todas as outras redes virtuais de relacionamento são meios que, em pouco tempo pode-se fazer uma série de investigações, abrindo caminho para desconfianças e flagrantes reais ou imaginários.

Tudo se tornou mais tentador, estamos mais visíveis do que nunca. Não existe mais privacidade com tantas formas de utilizar-se dos meios tecnológicos: seja para uma pessoa se tornar infiel em algum grau, seja para se tornar invasiva e controladora da vida alheia. Qual dos males é o maior? Difícil responder. Ambos são prejudiciais para um relacionamento saudável e para a estabilidade no relacionamento. Percebe-se que todos aqueles que utilizam os meios tecnológicos precisam ficar atentos ao que realmente é saudável para à sua vida pessoal e amorosa. Pensar bem sobre os fatos que podem colocar em risco à vida de um casal. É possível que se criem parâmetros válidos para ambos. Os extremos entre o aceitável e o inaceitável, entre o tolerável e o intolerável, devem estar claras desde o início e ser reforçadas sempre que necessário. É imprescindível que haja diálogo para que o casal possa esclarecer o que ambos veem como saudável nessa relação virtual. Desse modo será possível, senão evitar, ao menos minimizar os estragos. Mas também desfrutar os benefícios das tecnologias, que, quando utilizadas com bom senso e criatividade, permitem satisfação às relações.