Você não pode ensinar nada a um homem; você pode apenas ajudá-lo a encontrar a resposta dentro dele mesmo. (Galileu Galilei).

O enunciado deste artigo é “conhece-te a ti mesmo, ou seja, nossa condição: quem somos, através de uma conexão evolutiva entre o pensamento, a busca da razão e o conhecimento abordado pela psicanálise, considerando o homem inserido na sociedade e na cultura”.

O fato é que nunca evoluí. Sempre fui eu mesmo. Mario Quintana, poeta (1906-1994).

Conhece-te a ti mesmo! É de se admirar: como um provérbio escrito há mais de dois mil anos pode ser tão contemporâneo. Mas, só podemos utilizá-lo, de forma apropriada, ao adquirirmos maior autoconhecimento e insights. Conhece-te a ti mesmo está dentro do reconhecimento do EU. Reconhecer qual é a “minha identidade”. Parece tarefa fácil –, mas não é bem assim, na verdade, nós estamos extremamente envolvidos uns com os outros – e este mix de envolvimento não é a nossa verdadeira identidade, entretanto, faz parte do nosso EU. O tempo todo estamos envolvidos com o desejo e a necessidade do outro. E ao pensar nesse envolvimento, percebemos que o medo faz parte do desejo, então, ocorre que, muitas vezes sentimos medo pelo o outro e, também, pelo que o outro representa em nós. Esse processo de reconhecer a própria identidade é permeado por crises. O caminho percorrido de (Conhecer a ti mesmo) é abastecido por crises. Estas crises  nos dão possibilidades de nos conhecer… E se, porventura, interrompermos esse fluxo de crises, a mente pode entrar em perigo; configurando assim, um xeque-mate. Isto é, o fim do jogo…

“O ar está tão carregado de espíritos que não sabemos como lhes escapar” Sigmund Freud, citando Goethe em Fausto.

É libertador descobrirmos que rejeição e desamor não são nem sequer análogos. Por exemplo: o relacionamento entre homem e mulher, quando ambos descobrem essa diferença dão a eles o poder do autoconhecimento. Dessa forma, aumentando o autoconhecimento, ocorre uma melhor qualidade nos relacionamentos. Na realidade, não rejeitamos o OUTRO; NOS rejeitamos no OUTRO. Mas à medida que aumenta o poder aumenta proporcionalmente a responsabilidade. É interessante analisar o que nós achamos. Geralmente, achamos que o defeito sempre está no outro. Mas qual é o poder que temos sobre o outro? O poder de mudança deve começar em nós. Quem deve mudar somos nós, não o outro, porque o rejeitamos por um problema nosso, não dele.

O reconhecimento da própria identidade é um processo árduo e em permanente construção, abastecido de crises existenciais, mas evitá-las pode colocar em xeque uma mente saudável. Prof. Renato Dias Martino.

Esse mecanismo acontece em todos os relacionamentos humanos. No terapêutico é bastante presente e comum e, por isso, deve ser sempre analisado. Por exemplo: se o terapeuta tem uma emoção reprimida nele e o analisando/paciente vive essa emoção que o terapeuta reprime nele mesmo, possivelmente, o terapeuta irá rejeitá-lo de alguma maneira – uma delas é sendo hostil em suas intervenções e/ou análises muito incisivas. Por isso, no meu ponto de vista, cada terapeuta tem seu próprio perfil no atendimento terapêutico, que entra no campo de suas vivências e emoções. Podendo haver empatia entre terapeuta/analisando ou não. Nesse caso, o feedback não será um depoimento sobre o comportamento dele, e sim um julgamento emocional, ou seja, vou condenar nele o que condeno em mim.

Só é possível aceitar o outro se eu me aceitar, e só posso me aceitar se me conhecer. Surgi desse ponto o provérbio socrático: “conhece-te a ti mesmo”.

Sócrates era o filósofo por excelência e sua atividade básica era questionar, perguntar, e assuntar, especialmente sobre o homem e o que ele sabia de si. Ele ia de pergunta em pergunta, nem tão interessado na resposta, mas na questão “conhecer-se”, chegando a dizer, de tão sábio, que “só sei que nada sei”… A importância de Sócrates criou inclusive “períodos” na história da filosofia: pré-socrático e pós-socrático. Assim, as questões sobre o homem em busca de si mesmo acompanham a história da cultura e da civilização desde os seus primórdios. Suas dúvidas são as minhas também, provavelmente não teremos “respostas”, mas necessitamos assuntar e indagar.

O pior de uma boa pergunta é uma resposta que pode acabar com a curiosidade de quem questiona; e mesmo porque nem sempre há resposta!  Na verdade, somente podemos nos conhecer parcialmente e de maneira muitas vezes enganosa. Entre outros fatos, porque nós somos indivíduos inseridos em um tempo: presente, passado e futuro; e quem fomos ontem, não somos hoje e quem somos hoje, não seremos amanhã.

Para concluir este artigo, vale ressaltar que os sonhos da humanidade, são seus mitos e os mitos dos homens são seus sonhos.

Como diz Caetano Veloso, “de perto ninguém é normal!”.