Interroga-se a tristeza a partir da retomada lacaniana da teorização do luto por Freud. Delimitam-se, a seguir, as bases de uma teoria lacaniana da perda, localizando a importância do objeto e destacando-se sua função de causa do desejo. Situa-se a dor da perda em relação com a perda da função do objeto, causa do desejo, necessariamente vinculada à inacessibilidade do objeto. Aborda-se a contemporaneidade com a seguinte questão: é possível que o objeto tenha se tornado visível/acessível? Isto não implicaria em instabilidades radicais na estruturação do imaginário do corpo? Objeto e desejo em tempos de superexposição. (Fonte: Ágora: Estudos em Teoria Psicanalítica. Data de publicação: 2005).

Não é verdade que “tristeza não tem fim”. Não há vida sem tristeza, porque não vivemos sem perder. Aquilo que gostaríamos de guardar perto de nós ou ter sob nosso controle para sempre – quando perdemos somos tomados pela tristeza – entramos no processo de luto, sentimos falta, lamentamos a ausência, ficamos com um vazio, um aperto no coração, uma dor que marca no peito.

Jamais em tempo algum, de forma nenhuma, devemos banalizar o sentimento do outro com expressões que fazem parte de um popularismo social, como, por exemplo:

– Vai passar;

– Para tudo tem seu tempo;

– Foi à vontade de Deus;

– Não era pra ser ou era pra ser assim, etc.

Que ninguém imagine como a tristeza se abala com palavras, mal ditas. Às vezes, o querer ajudar piora a dor do outro. A dor vai continuar ali, bem do tamanho da perda vivida! Seja na perda de um ente querido, seja na perda do parceiro/amante, pela separação, divórcio e/ou à morte. É fato, à presença verdadeira conforta, mas não basta o corpo presente e a alma distante. Já boas palavras, bem ditas, fazem o afeto e a empatia ressoarem internamente e acalmam.

Não é porque na aparência conseguimos esquecer e ultrapassar a tristeza que o foco dela obrigatoriamente desapareceu.
As religiões milenares mestres de como lidar com as dores psíquicas, organizam ritos e dogmas para melhor confortar os humanos nas suas perdas de entes queridos. E ensinam a importância de vivenciar o luto: há velório, há enterro, fazem-se as missas. Assim, é entre os católicos, (que celebra missa de sétimo dia, um mês, um ano). Evoca-se de novo quem se foi quase como um reencontro, (sem a presença física, mas a presença fica no imaginário-simbólico). Outras religiões também têm ritos com a mesma função. O que importa lembrar é que a perda não se elimina por decisão, distração ou negação.

A tristeza, pequena ou grande, dilui-se bem com a empatia que se manifesta por presença, sonoridade e compreensão. Não adianta nada dizer que podia ser pior. Nesse momento, uma alma amiga, o parceiro, o filho tocando e sussurrando com carinho pelo sentimento é sempre a melhor companhia. Mesmo que a pessoa tenha perdido só um objeto de valor afetivo, como uma caneta, um anel… Claro que não dá para compararmos com a perda humana, mas perder é triste, e a tristeza dói mais na solidão. Tenha afeição com a dor alheia e sinta como fazer certos gestos. É o que importa.

A tristeza gerada por um evento traumático pode desencadear uma depressão, que é quase o seu oposto. Porque na tristeza há dor por perda; ficamos cheios de sentimentos de dor. Na depressão, desistimos de querer viver para não mais sofrer. Para tristeza não tem remédio. “Ela só desaparece com o tempo que, necessitamos para diluir nossas dores”. Tristeza dói. Depressão anestesia.

 “Não há problema que uma falta de solução não resolva”. Se para tudo houvesse remédio, seria possível traduzir completamente a essência de cada um no outro, num remédio, numa bula que nos decifrasse perfeitamente, numa tecnologia. A posição psicanalítica é de que a vida não tem remédio para a dor psíquica. Segundo Jorge Forbes, psicanalista.