INTRODUÇÃO

O presente artigo tem por objetivo abordar: o divórcio versus recasamento – que vêm batendo recordes nos últimos dois séculos. Ao que parece, o sujeito do século XXI, ficou menos temeroso ao tomar decisões importantes para sua vida.

Por que tanta avidez em tomar novos rumos nos relacionamentos entre casais? Será que estamos mais inquietos e egoístas, menos tolerantes com o outro, mais ansiosos para buscar a felicidade, mais abertos, menos dispostos a engolir a seco uma relação que não deu certo – ou, deu certo durante algum tempo. Dizia o poeta: Que não seja imortal, posto que é chama. Mas que seja infinito enquanto dure”. Vinícius de Moraes.

CASAMENTO X SEPARAÇÃO

O divórcio abriu caminho para uma solteirice, ou uma nova união. O “até que a morte os separe” deixou de ser uma bênção “afrontante”.

Casamento é opção, não prisão perpétua. Recasar significa começar de novo, e continuar a estrada. A mudança na lei arejou os costumes.

Antes o divórcio só era possível após um ano de separação judicial e/ou dois anos de separação consumada, quando homem e mulher não estão mais juntos, mas são considerados ainda casados pela Justiça. Agora, é possível descasar em minutos, é instantâneo como uma injeção, às vezes dói, às vezes alivia a dor.

Muito embora, exista pessoas que são incapazes de ficar sós, quando terminam um relacionamento, logo, buscam outro parceiro. Para essas: a vida têm graça apenas se estiverem acompanhados de alguém.

Na verdade, saber viver um período sem alguém é uma experiência que enriquece e aumenta as possibilidades de êxito na próxima relação.

SOLIDÃO X LUTO X DESPEDIDA

A solidão, portanto, pode se transformar em rica fonte de crescimento, experiência e renovação. Angústias intensas não permitem elaborar o processo de separação. De repente, ficar sem um parceiro não é solidão insuperável, nem abandono, mas momento de interiorização e autoconhecimento.

O sentimento de solidão não é causado, porque, não existe alguém ao lado, mas por se estar mal acompanhado de si próprio. Na verdade, a única pessoa com quem não podemos deixar de ter uma boa relação somos nós mesmos. E, quando não se consegue conviver bem consigo; não há milagroso amor que cure isso. Portanto, uma pessoa que não consegue viver bem consigo mesma, será praticamente inviável viver bem ao lado de alguém e/ou encontrar um parceiro que a suporte.

Quando uma relação chega ao fim, é natural que a pessoa fique confusa, até se surpreenda sentindo saudade do “ex”, menos por amor e mais por carência em ficar só. Outros fantasmas rondam a mente, como o temor de não mais conseguir alguém. Mas, se houver paciência, irá perceber que isso é uma ilusão causada pelo sentimento do fim da relação. A separação, mesmo de quem não desejamos mais é um processo doloroso – então, se faz necessário passar pela elaboração do luto, que faz parte do processo normal de adaptação. Um tempo de espera – tempo esse que, sabendo usá-lo, pode ser saudável e benéfico. Tempo de aprender com os erros, as dúvidas e refletir… Momento sereno e triste de despedida interna do “ex”, o adeus silencioso no passo a passo do luto, que poderá compor mais gratidão do que ressentimentos.

Afinal, não vivemos para colecionar vitórias o tempo todo. Sofremos com as mudanças que faz parte do processo inerente a vida. É importante nos protegermos do espírito descartável da cultura atual, da obrigação de ser “feliz” e das ilusões mágicas transmitidas pela mídia.

Quando a relação chega ao fim, tem-se a oportunidade de encontrar às próprias origens, voltar à liberdade de ir e vir, sem preocupar-se com esclarecimentos. É um momento de parar e, se abastecer existencialmente, para o retorno, quando novas oportunidades estarão a espera.

CONCLUSÃO

“Não sei se isso é verdade. A degradação de um casal é feita de um acúmulo de pequenas palavras e condutas, que parecem insignificantes na hora e mesmo depois, na memória: não liguei naquele dia, cheguei atrasado no outro, preferi dormir quando você queria outra coisa, não disse o que eu queria porque tanto faz… Nada precisa ser drástico e, no fundo, tudo é contingente: se eu estivesse apenas menos cansado, naquela noite, não teria dormido enquanto você falava… Conclusão: mesmo recomeçando sem poder recorrer às ditas “lições” do passado, talvez o desfecho não seja necessariamente o mesmo”.

Autora, Luzziane Soprani

REFERÊNCIAS:

De Moraes, Vinicius – poeta, dramaturgo, jornalista, diplomata, cantor e compositor brasileiro.
Calligaris, Contardo – psicanalista, escritor e dramaturgo italiano radicado no Brasil.