Existem pessoas que se apaixonam pela experiência proporcionada pela paixão

“A verdade não é outra coisa senão o que o saber só pode aprender que sabe ao pôr em ação sua ignorância.” (Escritos, Subversão do sujeito e dialética do desejo no inconsciente freudiano p.812). 

Existem pessoas que se apaixonam pela experiência proporcionada pela paixão. Dessa maneira, acaba vendo no outro apenas um espelho refletido de suas expectativas.

Qual a necessidade de se ter uma paixão? Talvez seja o pensamento que mais seja questionado nesses tempos contemporâneos

A resposta mais sensata pode ser: ter um amante para nos fazer companhia, bem como: dividir projetos, sonhos, alegrias, angústias, tristezas, e também receber e dar afeto, cuidados e proteção.

A partir desse ponto de vista, os amantes seriam bons companheiros e o sucesso da união dependeria dos adjetivos em comum de cada um e não das diferenças entre os parceiros.

A paixão pode até acontecer no início do relacionamento, mas na convivência do dia a dia ele deve evoluir. Para uma convivência duradoura demanda – calma e sensatez – os amantes devem navegar em mares serenos e seguros para que possam descobrir o amor de uma vida a dois.

A experiência subjetiva da paixão retira a pessoa dos paradigmas em que ela se encontra e a coloca em uma nova maneira de ser e ver o mundo a sua volta. A paixão marca a personalidade naquele momento e dá uma vitalidade incomum de disponibilidade e encantamento. Todas as áreas da vida de um momento para o outro passam a ser avaliada como muito positiva. O mundo do apaixonado passa a ser visto de forma colorida, preenchendo a alma dos amantes, como se refletisse a imagem de um EU em estado de plenitude, magia, meiguice, sensualidade, força e muita disposição para viver.

Mas vale questionar: “Qual é o lugar que se encontra o objeto desejado, nesse enredo?” O outro é quem instiga o movimento desse amor, ou, àquele que incita/estimula o desejo de amar. Mas, às vezes, essa resposta é tão forte que transcende. A pessoa entra em uma dimensão avassaladora pela experiência da paixão que já não tem mais contato humano e real com o objeto do seu amor, ou seja, aquele que o coloca, supostamente, nesse estado.

A paixão pode ser um sentimento perigoso e enganador, uma patologia que afeta corações inocentes e traz consequências destruidoras: o caminho de uma paixão possessiva é a frustração, o arrependimento e a infelicidade.

Quando a paixão enfeitiça o sujeito, implica dizer: que somos incompletos, porque na realidade somos seres incompletos em estado de continua evolução. Estar apaixonado é estar em um mundo de incertezas e, por isto, muitos se assustam perante a paixão. Diante das frustrações as pessoas recorrem, então, a estratégias para se ver livres deste incômodo.

Deveríamos compreender que o que idealizamos do outro é uma ficção e que a ficção escapa o mundo real. Os mistérios da paixão demandam uma contínua invenção. O desconhecido instiga, seduz, intriga, entusiasma, fascina o sujeito, embora possa estigmatizá-lo. Mas um bom começo para se perceber o outro como uma imagem sem possibilidade de frustração é perceber a si próprio como definitivamente incompleto. Desta forma, podemos conviver com nosso amante, ouvir juras de amor e ainda assim manter o desejo – descobrindo no dia a dia que a verdadeira convivência de parceria, companheirismo e o mais importante

Quando a situação é favorável, quem ama se sente preenchido pelo que tem de melhor. Justamente em razão disso, corre um sério risco: o de se apaixonar perdendo de vista àquele que crê amar. Nesses casos, a pessoa – ama/amar – mas nem sempre o parceiro se beneficia desse amor.

Por fim, fixe seus pés no chão, olhe para dentro de si e se conheça. Admita suas imperfeições. Para poder conviver com o outro, entenda que não existe no mundo alguém que seja sua imagem e semelhança refletida, portanto, não vale à pena perder tempo tentando encontrar a cara metade. O amor é muito mais que isso, o amor é viver com os cinco sentidos da alma, é compreender, é confiar e, principalmente, sentir que a divindade habita dentro de nós.