“Tentamos achar nas coisas, que por isso nos são preciosas, o reflexo que nossa Alma projetou sobre elas.” Marcel Proust.
O consumismo desenfreado tem sido confundido com boa qualidade de vida. Uma química inigualável, que sobrecarrega mais que sustenta – esterilizando a flora natural da vida de qualquer um.
O consumidor da atualidade com a onipotência e a onipresença da mídia ditam o que se come, onde se divertir, o que se vestir, o que se ler, onde se deve viver e/ou morar. A mídia é aquilo que vemos e sentimos no dia a dia. É uma apelação psico-hipnótica às milhares de aparências, tons, aromas, imagens e sons que passam a ter mais poder que às palavras do nosso psiquismo. Em plena era da cultura do consumismo – o reforço diário e erotizante pode atrair cada vez mais à nossa vontade de possuir – erotizando nossos desejos. Nós podemos ser enganados por nosso próprio psiquismo. E isso, pode ser o cultivo das doenças psicossomáticas.
O consumo dá a nova ordem e a nova lei que eternizam o bem descartável, no seu tempo voraz… “Mas que seja infinito enquanto dure”, assim, diz o poeta Vinícius de Moraes.
O consumismo cria necessidades artificiais com tal força e apelo que há um esvaziamento, ou uma perversão do senso crítico, a ponto de que ao se possuir um objeto que não seja o último lançamento do momento, pode se enfrentar constrangimentos. Um exemplo comum, na atualidade são os celulares, pois é exibicionista de se ver que de um instante para outro, aparecem novos modelos, com opções das mais variadas, que, não se relacionam com sua finalidade básica. O novo aparelho é o que se vende, é o que está na moda, é o que se apresenta para garantir aceitação, haja vista é chic/glamouroso ter um desses. Enquanto não chega a nova tendência, ditada pelos interesses econômicos que tornam tudo substituível e superado para garantia de novos lucros.
Na era globalizada tudo pode se tornar descartável e rápido demais em nossas vidas. Nem sempre podemos comprar, ter, desejar e até satisfazer-nos de todos os desejos/coisas. No entanto, algumas coisas são ilusoriamente nos dada gratuitamente: o “oferecimento” do prazer de ver e desejar em um primeiro momento – sendo que para a realização se têm um custo muitas vezes, além de nossa realidade de poder aquisitivo.
Ora, podemos Ser e Ter tudo que nos apresentam?
Tendo em vista que este estigma é possível – até ter um “ganho” ou um “aumento” hipnoticamente repetitivo – é como se existisse sutilmente uma técnica psico-hipnótica que nos instigue a ter uma alucinação, aumentando cada vez mais o desejo de possuir… O que pode fazer com que a neurose da “caixa preta” possa se desencadear.
Sendo assim, o acompanhamento terapêutico pode ser algumas das saídas para o sofrimento. É preciso a busca de equilíbrio para lidar com o sintoma do consumo, em que todos nós estamos inseridos. Nesse momento o psicanalista e o saber psicanalítico colocam-se como uma das opções na pós-modernidade – para desfazer a alienação do próprio desejo – que escraviza ao desejo do outro. Resta ao analista, analisando e a instituição o desafio de descobrir parceiros, como e por onde construir a alternativa da oportunidade, da elaboração psíquica, dos insigts, para os analisandos/pacientes que não podem consumir uma Psicanálise. Há um campo novo para esse saber na contemporaneidade, um campo que surgi de outras demandas com valores mais acessíveis, como o atendimento psicanalítico on-line, que muitos colegas ainda, denunciam como não produtivo a psique da era consumista.
Por fim, aliviar a pressão interna, alivia também o sintoma psicossomático. Mas, sobretudo, o acompanhamento terapêutico não deve ser desprezado. Reestruturar o prazer pela vida com o essencial para se viver, com a satisfação de Ser EU e não em Ter EU.
Thiago
Adorei!
Este tema do consumismo muito me atrai… Sem mais, achei prefeito!!!
Parabéns!
FAUSTINO DE TOLEDO JUNIOR
O RISCO DO PODER TER E O NÃO TER, POSSA TALVEZ DEIXAR PESSOAS COMUNS EM SITUAÇÕES COMPLICADAS EM RELAÇÃO AO SEU PODER ECONOMICO QUE NÃO CONSIGAM OBTER AQUELE CELULAR, TV,GELADEIRA…TORNANDO-AS TALVES REBELDES SEM CAUSA…
Thiago
O que o Sr. Fautino disse é um fato observável.
Como o tal Funk ostentação, que ilude com os bens materiais as camadas mais pobres. Então vemos crianças saindo para roubar e TER o que não está dentro da verdadeira realidade delas. Simplesmente pelo glamour do objeto de consumo. Infelizmente isso é incentivado a cada comercial…
Muitas vezes um crime não é cometido para sanar uma fome, e sim pra obter um celulat caro e se sentir como parte existente de um grupo, assim da sociedade. Incentivo e reconhecimento para a expressão do EU não existe neste sistema econômico capitalista, atualmente individualista. Acredito isso estar totalmente vinculado a lógica do capitalismo selvagem.
vania maria fogli pisaneschi
amei, como sempre grandes lições…… bjs
kesia martins
Achei muito atual em nossa sociedade,por isso vem os crimes aumentam desordenada por isso,as pessoas querem ter além dos limites então esta ai,muito boa essa matéria sucesso pra vc abraço.
katia antonio
Muito bom…saudade de ler seus artigos!!
Re
Bacana o texto.
Apenas achei estranha a frase “O consumidor da atualidade com a onipotência e a onipresença da mídia ditam o que se come, onde se divertir, o que se vestir, o que se ler, onde se deve viver e/ou morar. A mídia é aquilo que vemos e sentimos no dia a dia. “, embora tenha entendido o que quis dizer. Quem dita? O consumidor ou a mídia? Pelo modo que escrever parece ser o próprio consumidor…enfim.