“Às vezes eu tenho vontade de ser menos intensa, só pra poder entender como o resto do mundo aguenta essas coisas que me devoram permanentemente e de uma forma tão absurda…” Clarice Lispector

Diversos autores usam o termo Borderline, há mais de um século, para explicar uma alteração na fronteira (ou na borda) entre a neurose e a psicose.O Transtorno de Personalidade Borderline tem uma longa história, passando por diversos conceitos e denominações ao logo do tempo. A primeira vez que aparece o termo borderline é em 1884. Nesse ano, Hughes (psiquiatra inglês) designa assim aos estados borderline da loucura, definindo assim essas pessoas que passaram toda sua vida de um lado a outro da linha da sanidade. Alguns autores da época usavam esse diagnóstico quando havia sintomas neuróticos graves.

O Transtorno de Personalidade Borderline não é tão simples de ser diagnosticado, geralmente, pacientes só são diagnosticados corretamente após anos e anos de peregrinação por consultórios médicos. Somente um médico experiente pode ajudar o Borderline de uma maneira efetiva. Não existem remédios específicos para o mal, mas alguns psicotrópicos, normalmente receitados para outros tipos de transtornos podem ajudar. Todavia, após o diagnóstico, a terapia é baseada na recuperação da autoestima.

As estatísticas indicam que existem mais mulheres do que homens Borderline. Segundo a Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva: “ter os traços da personalidade borderline não é tão ruim assim, pois, são pessoas motivadas, auto-astral, boas para sair e se divertir.” Aliás, ela afirma que, “os traços da Personalidade Borderline, geralmente, “todos nós” já tivemos um dia, por exemplo, quando nos apaixonamos e levamos um fora.” Nesse estado ficamos extremamente tristes! Freud diz, “Fica-se muito louco quando apaixonado. Mas o Transtorno de Personalidade Borderline em si é como um furacão: ora eufórico, ora suscetível demais. O Borderline ao contrário do Psicopata sente demais, ou seja, é 100% emoção e 0% razão, ao passo que o Psicopata é 100% razão e 0% emoção. Por isso, existem tantas Borderlines que se envolvem com Psicopatas.

“O borderline é inseguro demais. Um exemplo clássico é o maníaco do parque, (um serial killer brasileiro) que recebe centenas de cartas na penitenciária, de mulheres apaixonadas por esse sujeito. E, ao interrogar essas mulheres, de o por que um homem com um histórico tão cruel? Elas dizem que pelo menos dentro da penitenciária, ele é só dela(S). Tal é a insegurança do Borderline.”

Embora o Borderline mantenha condutas até bastante adequadas em bom número de situações, ele tropeça escandalosamente em outras triviais e simples. O limiar de tolerância às frustrações é extremamente susceptível nessas pessoas.

O curto-circuito agressivo expresso pelo Borderline sob a forma de crise pode desempenhar várias funções psicodinâmicas, como por exemplo, aliviar o excedente de tensão interna, impedir maior conflito e frustração, ressaltar a presença do paciente, ainda que de forma desagradável e ineficaz, melhorar a auto-afirmação, obrigar o ambiente a reconhecer sua importância, ainda que para se lhe opor ou confrontar.

O borderline também está sujeito a exuberantes manifestações de instabilidade afetiva, oscilando bruscamente entre emoções como o amor e ódio, entre a indiferença ou apatia e o entusiasmo exagerado, alegria efusiva e tristeza profunda. A vida conjugal com essas pessoas pode ser muito problemática, pois, ao mesmo tempo em que se apegam ao outro e se confessam dependentes e carentes desse outro, de repente, são capazes de maltratá-lo cruelmente.

DO RELACIONAMENTO BORDERLINE:

Muitas das melhores amizades que o Borderline inicia, acaba exatamente pelo seu grau de sufocamento com o outro. Ser um amigo esporádico do Borderline pode ser muito divertido, porém manter um relacionamento dia a dia é muito complicado! O borderline se legítima no outro – quer alguém que esteja disponível só para ele – e, se porventura, não conseguir manter a pessoa que ele elegeu a sua disposição – é inviável manter um relacionamento com Borderline. Dessa forma, o Border buscará outra (S) pessoa (S) que o correspondam. É um círculo vicioso – necessita ser retroalimentado. No entanto, são pessoas simpáticas, agradáveis e sedutoras, para aqueles que o conhecem superficialmente, mas na intimidade são explosivas, agressivas, intolerantes, irritáveis, impulsivas, ciumentas com tendência a manipular. Quando não explodem, implodem. Os sentimentos do Border, quando não expressos de maneira explossiva, serão expressos no corpo, como por exemplo, se mutilando. O borderline sofre muito e faz sofrer quem convive com ele.

NO DSM.IV:

Como sempre, a melhor descrição da Personalidade Borderline está no DSM.IV (Manual de Diagnóstico e Estatística das Doenças Mentais, da Associação Norte-Americana de Psiquiatria). Pelo DSM.IV vê-se que a característica essencial do Transtorno da Personalidade Borderline é um padrão comportamental de instabilidade nos relacionamentos interpessoais, na auto-imagem e nos afetos. Há uma acentuada impulsividade, a qual começa no início da idade adulta e persiste indefinidamente.

ALGUNS BORDERLINES FAMOSOS:

A Dra Ana Beatriz Barbosa Silva cita várias personalidades, que, são portadoras de Transtorno de Personalidade Borderline, mas deixa claro serem apenas indicações, baseadas na sua experiência e na observação. São elas:

Amy Winehouse – explosiva, encrenqueira e talentosa;

Marilyn Monroe – bela, sexy e imortal;

Tony Curtiss,

Janis Joplin,

Elizabeth Taylor.

Indiscutíveis talentos, famosos personalidades, porém, difíceis e instáveis.

DA PERSONALIDADE BORDERLINE:

A Personalidade Borderline é uma peça de teatro onde os atores coadjuvantes estão sempre esperando ele, o ator principal. Trata-se de um ego que não tolera o vazio, a separação, a ausência, não sabe superar com equilíbrio os conflitos.

CONCLUSÃO:

Evidentemente existem situações muito mais difíceis de se atestar o grau de responsabilidade da pessoa borderline. Essas se relacionam, basicamente, com os episódios de descontrole impulsivo. Nesses casos estaria em jogo não a questão psiquiátrica (de diagnóstico) mas, a questão psicológica da circunstância. O dilema dessas questões está, exatamente, no fato dessas pessoas entenderem e compreenderem a gravidade de seus atos mas, não obstante, serem incapazes de auto-controlarem suas condutas. Portanto, os atos cometidos pelas pessoas com Transtorno de Personalidade Borderline são de sua autoria, e, podem ser punidos pela justiça, caso façam contravenções penais.

Autora, Luzziane Soprani

REFERÊNCIAS:

Ballone GJ, Moura EC – Personalidade Borderline- in. PsiqWeb
Ana Beatriz Barbosa Silva – Corações Descontrolados: Ciúmes, raiva, impulsividade o jeito borderline de ser.