LUTO. A FINITUDE DO CONTATO FÍSICO

“Toda perda grave gera um luto: A perda é uma das situações mais traumáticas da vida de um ser humano. O luto é a perda de pessoas próximas ou de situações que têm uma relação de vínculo conosco; há uma grande carga energética vinculada. É um processo de elaboração para que essa ferida sare. É muito importante a pessoa realizar que de fato a perda ocorreu”. (KOVÁCS, 1998).

INTRODUÇÃO:

O luto, de modo geral, é a reação à perda de um ente querido, à perda de alguma abstração que ocupou o lugar de um ente querido, como o País, a liberdade ou o ideal de alguém, e assim por diante. Em algumas pessoas, as mesmas influências produzem melancolia em vez de luto; por conseguinte, suspeitamos de que essas pessoas possuem uma disposição patológica. Também vale a pena notar que, embora o luto envolva graves afastamentos daquilo que constitui a atitude normal para com a vida, jamais nos ocorre considerá-lo como sendo uma condição patológica e submetê-lo a tratamento médico. Confiamos em que seja superado após certo lapso de tempo, e julgamos inútil ou mesmo prejudicial qualquer interferência em relação a ele.

DA PERDA AO LUTO:

O luto é um movimento de afastamento forçado e doloroso de quem tanto amamos que não existe mais. Somos obrigados a nos destacar dentro de nós, do ser amado que perdemos. Seria como identificar-se (ficar com) com o melhor do objeto perdido dentro de nós e enterrar o resto.
Freud sustenta que a imagem do objeto perdido é a sua “sombra”, que cai sobre o eu e encobre uma parte dele. A dor é uma reação. E ante o transtorno pulsional introduzido pela perda do objeto amado, o eu se ergue: apela a todas as suas forças vivas. Mesmo com o risco de esgotar-se. E as concentra num único ponto, o da representação psíquica do amado perdido.

A DOR DA AUSÊNCIA:

A dor ocorre cada vez que acontece um deslocamento maciço e súbito de energia. Assim, o desinvestimento do eu dói, e o desinvestimento da imagem também dói, o que dói não é perder o ser amado, mas continuar a amá-lo mais que nunca, mesmo sabendo-o irremediavelmente perdido. Contudo, é necessário separar-se do ente querido, ou seja, da parte física, e isso é possível com o processo do luto. O luto é um longo caminho que começa com a dor viva da perda de um ser querido e declina com a aceitação serena da realidade, da perda e do caráter definitivo da sua ausência. Durante esse processo, a dor aparece sob forma de acessos isolados de pesar. “O luto é desfazer lentamente, o que se coagulara precipitadamente”.
Buscaremos avançar nesse ponto, reiterando a questão do processo de luto para a compreensão desse problema. Costumamos ouvir de pessoas próximas, que, com tempo aceitamos à morte, mas a bem da verdade, não há aceitação da morte, muito embora tenhamos que conviver com a ausência do ente querido. Mas para que isso aconteça é necessário fazer o processo do luto. Nesse aspecto, o processo do luto é de grande relevância. A negação da ruptura contínua é o pior mecanismo de defesa. A maneira mais justa nesse aspecto é elaborar o luto, para que se possa dar continuidade à missão de quem fica.
Segundo Fernando Ulloa, luto congelado é um luto diferido, adiado, que pode ser mantido por muitos anos e se caracteriza quando é trabalhado na psicoterapia. O luto em processo de negação é uma espécie de estagnação, de sofrimento congelado.
Freud disse que o luto é um retirado do investimento afetivo da representação psíquica do objeto amado e perdido. O luto é um processo de desamor, é um trabalho de luta, detalhado e doloroso. Podem durar dias, semanas e até meses, ou ainda toda uma vida…

A CONSCIÊNCIA DA FINITUDE:

Quanto mais deixamos a morte de lado, mais ela se aproxima. Quanto mais nos dedicarmos a diminuir nosso egoísmo, mais descobrimos que não só teremos menos medo de morrer como também teremos menos medo de viver.
Atualmente, o mundo vem sendo marcado por diversas perdas, são dezenas de pessoas que morrem em sinistros desastres, personalidades e familiares acometidos de doenças que nos deixam todos os dias. Nesse aspecto, ao analisar esse panorama que se configura em nossas vidas – devemos levar em consideração a necessidade de trabalharmos nossas crenças, filosofias e sentimentos, já que eles são inerentes a qualquer ser humano. Em diversas situações, o aspecto emocional prevalece ao racional. Entendemos que não há como negar nossos sentimentos nos momentos de contato com a morte, embora seja possível evoluir em sentimentos e emoções, por mais difícil que seja.

CONCLUSÃO:

Nunca estamos tão mal protegidos contra o sofrimento como quando amamos, nunca estamos tão irremediavelmente infelizes como quando perdemos a pessoa amada. Assim, o amado me protege contra a dor enquanto seu ser palpita em sincronia com os batimentos dos meus sentidos. Mas basta que ele morra bruscamente para que eu sofra como nunca.

REFERÊNCIAS:

Sigmund Freud, LUTO E MELANCOLIA – Editora: Cosac Naify , 2012. Marilene Carone

Material de EFAPO/CEBRAFAPO. Freud, S., Obras Completas

Nasio, Juan-David, O Livro da Dor e do Amor, J. Zahar Editor, Rio de Janeiro, 1997. M. Ramirez

Kóvacs, M. J. (2003a). Educação para morte: temas e reflexões. São Paulo: Fapesp; Casa do Psicólogo.