“Uns sapatos que ficam bem numa pessoa são pequenos para uma outra; não existe uma receita para a vida que sirva para todos”.

Carl Jung

Nossa primeira experiência de dependência é a relação: mãe e bebê. A presença da mãe o tranquiliza. Assim que a mãe se ausenta, surgi o medo, a ansiedade. Durante toda à nossa vida vamos atrás de alguém que nos dê novamente essa sensação de completude. E encontramos esse tranquilizador nos braços do amante que repeti o afeto da mãe, e que nos faz sentir novamente tal conforto. Não é à toa que os parceiros se tratam como bebês, cheios de conversas enroladas que só eles entendem. Viveremos sempre o estigma dos bebês, que se sentem desamparados sem a mãe, também os casais se sentem perdidos quando ficam muito tempo longe um do outro.

 No fim do relacionamento há um processo de luto, de despedida da pessoa amada, ou mesmo que não mais amada no quesito atração e sexualidade. Mas, todas às vezes, que nos despedimos das pessoas que nos afetaram há dor, tendo em vista, que afeto é tudo aquilo que nos afeta, sendo afeto positivo e/ou negativo. Os afetos negativos são como as pessoas que querem destruir as outras, podem deixar magoas e profunda repulsa, como também, os afetos vividos de forma positiva são como os bons relacionamentos, e, que, um dia acaba a atração, mas fica o respeito. Sabemos que nada é eterno, à vida é efêmera. No entanto, ninguém está preparado para despedidas. Porque ligamos as despedidas a finitude, o fim, o adeus, o nunca mais.

Por isso, o fim do relacionamento é uma morte, assim, como no começo se deu por uma identificação entre os parceiros – como toda identificação criada por ambos a forma de ser, de falar, de olhar, um contingente de situações que foram sendo construídos sob o olhar do outro. Mas quando tudo acaba a casa desmorona. Daí surgem as emoções que podem ir sendo somatizadas: podendo chegar da tristeza profunda ou uma situação mais grave como a depressão – e outras patologias que afetam a psique. O indivíduo acaba não encontrando mais energia para sair, às vezes por um longo tempo, ou até mesmo o contrário sair para escapar e negar o seu luto. Toda energia estava ligada a uma identificação com o outro que acabou, daí a necessidade de um renascimento, que às vezes leva tempo.

O outro teve a função de trazer luz, energia. Quando a relação acaba, a sensação é de perder nossa luz. Tornando-se uma pessoa sem luz. 

O essencial é ter em mente que sofremos não porque o outro não mais nos ama, nos deixou ou foi embora sem ter demonstrado tanta consideração, porque quando acaba um relacionamento, um dos parceiros frequentemente sofre mais, e, com isso, o mais afetado vai dizer que o outro não o valorizou o quanto ele merecia, por isso ou aquilo, que o mais afetado fez pelo o outro. Acredita ele que deveria ter tido mais reconhecimento. É uma forma de recompensa ou mesmo de negar a realidade. No entanto, a pessoa afetada, digamos, de forma mais dolorida se sentirá incapaz de amar e se relacionar com outra pessoa. Na verdade, o amor sempre existirá dentro de cada um de nós (exceto os psicopatas/perversos, que são só razão e não sentem um pingo de emoção. Mas esse assunto é uma abordagem direcionada a esse tema, o qual já escrevi em outros artigos). Então, a capacidade retorna, quando o sofrimento se esvai. Melhor dizendo, o amor está dentro de cada um de nós, o amor não se esgota, por isso, temos a capacidade de amar tantas vezes e sobre diversas formas de amar, por exemplo, a família, os amigos e um novo parceiro(a). O amor para um novo relacionamento pode ficar latente, até que a pessoa resolva seus conflitos. 

A justificativa para esta condição é evidente: não somos fixados a pessoas ou relações, mas as evidências, intuicões que vêm das experiências nas quais vamos vivenciamos ao longo da vida. Na linha da vida, o objetivo seria dizer que com o tempo às pessoas amadurecem e ficam intuitivas, sagazes e com a sensibilidade das suas experiências, passam a compreender determinados eventos da vida. Mas, o ser humano, não é exato, aliás, o ser humano é muito complexo e subjetivo, com isso passamos a compreender que cada pessoa tem uma estrutura para suportar ou não os eventos e mudanças da vida. 

O indivíduo pode passar anos sofrendo pelo(a) ex-companheiro(a) mas tudo se dissolve quando uma outra pessoa aparece e faz a carrugem da vida voltar a andar novamente. Na verdade, o indivíduo não estava desejando àquela pessoa de volta – desejava, sim, a sua ereção de volta: o desejo de sentir à vida iluminada novamente, o ímpeto de viver uma experiência que “preencha” o mundo, o pacote completo. Sabemos que na vida não há completude ao contrário nada estará sustentado nas nossas vidas e é exatamente essa forma de nos retroalimentar que instiga à vida.

“O ego é dotado de um poder, de uma força criativa, conquista tardia da humanidade, a que chamamos vontade”.
Carl Jung

Entende-se na visão analítica da vida que quando o relacionamento termina, o indivíduo não sai exatamente na busca incessante do outro – na realidade, o indivíduo não está fitando o outro, ele quer apenas recuperar o seu amor perdido de si mesmo. O que o indivíduo deseja voltar a possuir é o amor por si mesmo. A pessoa que supostamente sai mais sofrida na relação sai atrás da sua identidade mutilada, dos projetos interpelados/atropelados, do desejo interrompido, da sua própria sombra que o outro projetava, do seu EU inteiro que o outro suportava, completava, do que ocorria nele e com ele, quando o outro estava junto. O que o indivíduo corre atrás é dele mesmo.