Freud inicia seu pensamento teórico assumindo que não há nenhuma descontinuidade na vida mental. Ele afirmou que nada ocorre ao acaso e muito menos os processos mentais. Há uma causa para cada pensamento, para cada memória revivida, sentimento ou ação. Cada evento mental é causado pela intenção consciente ou inconsciente e é determinado pelos fatos que o precederam. Uma vez que alguns eventos mentais “parecem” ocorrer espontaneamente.
O termo “esquizóide” foi criado por (Eugen Bleuer), no início do século XX, para definir uma tendência de a pessoa direcionar a sua atenção para o mundo interior, fechando-se ao exterior.
Apesar da semelhança e de alguns sintomas (como o embotamento emocional e o isolamento), esta perturbação não é o mesmo que a Esquizofrenia (a Esquizofrenia caracteriza-se, sobretudo, por uma fragmentação da estrutura básica dos processos de pensamento, acompanhada pela dificuldade em estabelecer a distinção entre experiências internas e externas, como é o caso dos sintomas psicóticos de delírio ou alucinação).
Segundo Reich, a distinção entre as estruturas de caráter esquizóide e esquizofrênico é uma questão de grau. O que não significa que não sejam encontradas diferenças qualitativas. Pode-se, em casos extremos, certamente hesitar ao comparar o esquizofrênico institucionalizado, com o bom funcionamento do caráter esquizóide.
O Esquizóide apresenta rupturas em sua relação com a realidade – tanto externa quanto interna. É como se ele não estivesse em seu próprio corpo. Rejeita a realidade e tem dificuldades de lidar com a parte egóica da vida, ou seja, aquela parte prática e material do dia a dia. Também não tem acesso a seus próprios sentimentos e a sua falta de unidade corporal transparece em um corpo fragmentado, que passa a impressão de ser mecânico e sem energia.
A característica principal que define esta perturbação da personalidade é o padrão evasivo de distanciamento de relacionamentos sociais e o mínimo de expressão emocional em termos interpessoais.
Os indivíduos com esta perturbação parecem não ter um desejo de intimidade, preferindo passar o tempo sozinho em detrimento de estar com outras pessoas (mesmo no contexto familiar). As atividades escolhidas são predominantemente solitárias. Mesmo quando se tratam de momentos com outras pessoas, a interação é breve.
Geralmente, são unânimes os autores, ao imputarem um distúrbio afetivo grave ao caráter esquizóide. Fenichel (1945) diz, especificamente, que “as emoções dessas pessoas parecem ser geralmente inadequadas, comportam-se “como se não” tivessem relações de sentimentos com as demais pessoas”. Embora basicamente verdadeiras essas afirmações, é difícil empregá-las como características.
A pessoa com Perturbação do Transtorno de Personalidade Esquizóide parece, igualmente, indiferente às críticas ou elogios. Pode parecer lento e letárgico, com um discurso monótono, tendo tendencialmente um humor negativo.
Esta perturbação da personalidade pode aparecer pela primeira vez na infância ou adolescência sob a forma de solidão, fraco relacionamento com as pessoas e baixo rendimento escolar, podendo criar situações em que estas crianças e adolescentes sejam vistas como diferentes e como alvos de bullying.
O Transtorno da Personalidade Esquizóide é diagnosticado com uma frequência levemente superior em sujeitos do sexo masculino. Pode, ainda, ter uma prevalência maior entre os parentes de indivíduos com Esquizofrenia ou Perturbação da Personalidade Esquizotípica.
Processo Terapêutico:
Como a terapia tem uma forte natureza interpessoal, as pessoas com o Transtorno da Personalidade Esquizóide terão algumas dificuldades em se “encaixar” e colaborar na relação terapêutica.
A psicoterapia trará sentimentos ambíguos, havendo o receio por parte do analisando/paciente que o processo terapêutico o faça descobrir mais falhas na sua personalidade e aumentar o seu sentido de ser inadequado.
Com validação por parte do terapeuta, será importante o foco da atenção na idiossincrasia do problema, isto é, naquilo que preocupa o analisando num determinado tema. Será relevante esclarecê-lo, evitando o desfazimento com as expectativas do terapeuta.
Quanto à temática de “não ter amigos”, o terapeuta poderá considerar que seria importante para o analisando ter um amigo, ou dois amigos quando para este o importante, neste tema, poderia ser que a família não estivesse sempre lhe dizendo que deveria ter amigos.
Trabalhar com analisandos cujas crenças e percepções contrastam significativamente com o terapeuta poderá trazer dificuldades. O analisando poderá ter crenças como: “as pessoas são cruéis”; “as pessoas são frias”; “as pessoas apenas deverão falar se houver alguma coisa para falar”.
Do ponto de vista terapêutico, as sugestões definem-se no sentido do estabelecimento de uma relação de confiança fortalecida, de forma centrada no analisando.
Com a intervenção psicoterapêutica pretende-se ir “derretendo a máscara de gelo”, num movimento de mudança e segurança, com gradual expressão de necessidades e emoções.
Metaforicamente, portanto, pode-se concluir que o esquizofrênico odeia inconscientemente sua mãe. Mas ele não é uma pessoa fria e odiosa. (Seu ódio não lhe envolve o coração, apenas seus músculos. Não foi seu coração que se congelou, só o seu sistema muscular).O caráter esquizóide, ao contrário do esquizofrênico, tem uma motilidade e coordenação motora maior, o ego é índice de independência melhor organizado. No seu tratamento, pode-se contar com uma participação mais consciente. Não obstante, as tendências esquizofrênicas básicas estão presentes, logo, a terapia deve ser orientada, no mesmo espírito que seria adequado no caso de se estar lidando com um esquizofrênico.
Referências: (CID.10 é F60.1) Critérios Diagnósticos para F60.1 – 301.20 Transtorno da Personalidade Esquizóide).
Thiago Augusto
Ótimo trabalho!!!
É mto interessante abordar o processo terapêutico. Enquanto estudante, ajuda bastante no momento da prática clínica.
Abraço!