A relação entre homem e mulher é aquela em que as pessoas depositam as suas maiores esperanças. Por isso, talvez seja nela que mais se sentem solitários-fracassados-impotentes. Se o casal estiver bem, os impasses serão menos impactantes e mais administráveis. Mas, se estiver mal, em vez de entender que por vezes o dilema da relação se trata de um problema do casal, é “inevitável”, que o mais suscetível vai culpar o outro, por todas as dificuldades que podem ocorrer, pelas mágoas e distanciamentos – um dos parceiros vai se fechando, sentindo-se só e acaba deixando o outro igualmente sozinho. Vale lembrar a música de Los Hermanos – O Vencedor – “Quem sempre quer a vitória, perde a glória de chorar”.

No fundo, todos sabem que há uma razoável cota de idealização e ilusão no amor, o que seria incompatível com ver a cara-metade espatifada no chão. Na verdade, é contraditório com a essência do amor real. Claro que ninguém aprecia viver com quem só coleciona insucessos – nesse caso, há algo patológico a ser verificado. Perder carrega um leque de significações terríveis. A derrota provoca um estrondo emocional na alma porque derruba a crença de que o indivíduo é infalível, de que é capaz de saber tudo. O fracasso é o real contra o qual se choca nosso desejo de invencibilidade. Mas, aqui entre nós, quem algum dia não sentiu o amargor de uma derrota? É na intimidade de uma relação amorosa que se encontra o melhor cenário para acolher e consolar a dor nessa hora – diante os desafios da vida que segue em frente. Sentir-se compreendido pelo parceiro traz bem-estar e alivia “os insucessos”. Aprender a participar da dor, da “loucura” e da ansiedade do outro sem entrar na mesma angústia também ajuda bastante. Para isso, pequenos comportamentos são fundamentais, como ouvir o que o outro diz, interessar-se por assuntos que o outro gosta, prestar atenção na forma como se expressa, sobretudo, respeitar a subjetividade do parceiro. É preciso deixar claro, que o texto não se propõe a indicar fórmulas de como obter sucesso nas conquistas amorosas. Não há como ditar fórmulas em relacionamentos, nem garantias e padrões de comportamentos no amor, nunca houve.

Os casais que vivem o problema têm a oportunidade de ver sua relação de forma generosa. E até tirar proveito das más situações. O curioso é que pessoas que obtiveram muito sucesso na vida com frequência ressaltam o valor das derrotas. Aliás, pessoas que percebem/reconhecem suas falhas, têm mais oportunidades de evitar erros em relações futuras. Mas é preciso saber extrair lições da derrota, assim, como colocou Friederich Nietzsche: “aquilo que não mata, fortalece”.

A mesma paciência e esperança devem se aplicar à relação do casal: é impossível ser vitorioso o tempo todo. Quem disser o contrário, está blefando. Há momentos em que os parceiros não se entendem, desanimam e têm vontade de desistir diante dos impasses da convivência. O fracasso às vezes é definitivo, porém, não raro, não passa de um momento difícil que pode ser superado, caso haja amor e não se tenha uma visão idealizada e perfeita do que é um convívio, porque, na realidade, o que ocorre nem sempre é um fracasso, mas apenas a frustração resultante de uma expectativa exagerada de sucesso. Afinal, somos humanos e finitos: não podemos triunfar o tempo todo.

O Filme: E Aí, Comeu? Comédia brasileira que retrata os relacionamentos. São três amigos de infância que vivem conflitos nos relacionamentos. Falam sobre seus dilemas e suas experiências no convívio com o sexo oposto. Regado a bebidas, seus contos e suas histórias, relatados numa mesa de um bar. Uma maneira lúdica de ver as vivências nos relacionamentos. Enfim, no fundo todos estão em busca do amor.
Com os atores e atrizes: Bruno Mazzeo, Marcos Palmeira, Emílio Orciollo Netto, Seu Jorge, Dira Paes, Tainá Müller – e os demais que fazem parte do elenco.