“Se existe um objeto de teu desejo, ele não é outro senão tu mesmo.” Jacques Lacan

Em alguns artigos anteriores deste blog tratei da necessidade de uma relação a dois. Falei também em outros artigos da idealização do apaixonamento. Neste artigo me inspiro na imaturidade emocional, que transcende a idade cronológica.

Apaixonar-se: talvez seja um dos maiores sonhos da condição humana. A paixão é para a maioria das pessoas, como uma solução mágica, resolveria parte das mazelas humanas. Óbvio que a paixão é importante, mas está longe de resolver todos os problemas. Sacrificar a dignidade e a autoestima somente pela paixão, por exemplo, não vale a pena. A arte e a mídia aproveitam ao máximo essa ideia.

Por outro lado, não se pode descartar uma relação agradável e abundante de sentimentos, por acreditar que não envolve amor suficiente. Amor em uma relação é bem diferente do que a maioria das pessoas imaginam. Claro que quando existe paixão, o relacionamento é bem mais instigante. Mas, não podemos esquecer, que a paixão é efêmera e, quando acaba, as pessoas se sentem decepcionadas – fica uma angústia, um vazio, sem saber como levar a vida adiante. De qualquer modo é sofrido, porém, evolutivo.

As pessoas estão condicionadas a acreditar que o amor é o mais importante em uma relação. No ambiente familiar é aprendido que nascemos para formar uma família, fruto de um grande amor. Assim, também, se comporta culturalmente a sociedade, de uma forma ou de outra, atesta a crença.

Geralmente, todos ou quase todos desejam se apaixonar, viver intensamente um sentimento avassalador – encontrar-se em um estado de embriaguês emocional. Mas pensar dessa forma nem sempre é saudável para quem vive um relacionamento. A paixão é prazerosa, mas não é tudo. Fixar-se nessa crença impede que os casais mensurem o compromisso com clareza e enxerguem o que está acontecendo na relação, dificultando as experiências trocadas entre si.

Somos indivíduos contemporâneos, cultuamos o universo das sensações, colocamos a paixão, a um nível de categoria elevada, traçando um modelo de vida amorosa.

Por mais importante que nos pareça, o amor é apenas um dos componentes que justificam uma relação. E, não me refiro a paixão, ou seja, aquele entusiasmo avassalador, que faz com que o apaixonado só veja no outro o que lhe agrada e seja de seu interesse. Refiro-me ao amor verdadeiro, que consegue atravessar os altos e baixos de uma relação. Aquele sentimento, de carinho, de compaixão, de satisfação, de compreensão e respeito pelas dificuldades do outro. Mesmo que o casal amadureça, ainda assim, não é suficiente para manter um relacionamento saudável. Além dele, é necessário mais que isso: respeito, parceria, projetos e objetivos comuns – o que inclui um somatório de decisões, como, por exemplo, ter filhos ou não, bem como outras situações que envolvem o casal.

No íntimo todos sabem que o fogo da paixão tende a esfriar com o tempo de relação. Sim, todos sabem que a paixão evapora e vira outra coisa, mas se iludem quanto a isso. Sofremos de amnésia coletiva. Esquecem que a paixão finda e o momento seguinte é, na melhor das hipóteses, marcado pelo amor firme e moderado. Pior que isso, as pessoas não só se esquecem de que a paixão é efêmera e não sustenta uma união, e experimentam a frustração do fim da paixão como sua incapacidade pessoal.

A paixão é, portanto, um outro ideal de si mesmo. O indivíduo não se frustra com o outro, mas consigo mesmo. Contudo, para chegar a tal percepção é preciso se permitir! É por vezes, sozinhos não conseguimos, precisamos de uma análise pessoal.

Evidente, que se faz necessário entender o mito da paixão. Existem pessoas de todas as idades que sonham em conhecer uma pessoa e viverem apaixonadas eternamente, assumindo assim, uma felicidade sem riscos. Não raro por mais que se machuquem emocionalmente, não aprendem que à vida a dois têm seus encantos, mas também suas frustrações. Mais importante que a paixão, é ter sabedoria para atravessar as fases de um relacionamento e descobrir que felicidade é um amadurecimento que vem no dia a dia, trazendo aprendizagens e crescimento. Isso sim é uma relação plena.