“Quanto maior for a extensão da inconsciência, tanto menor se tratará de uma escolha livre no casamento; de modo subjetivo isto se faz notar pela coação do destino, claramente perceptível em toda pessoa apaixonada” Jung.

A união entre duas pessoas é um acontecimento que, por mais antigo que seja ainda provoca um “estremecer” pelo fato de demandar questionamentos que homem e mulher nunca antes haviam feito. A estabilidade amorosa, reproduzida por uma união, muitas vezes unida pelo sacramento matrimonial diante do altar, já não é mais a mesma para a era contemporânea. Diante de novos perfis de relacionamentos, já não têm mais o mesmo sentido de antes. Pensar que a paixão e o amor são adjetivos de união eterna é uma ilusão que os parceiros já não se submetem a fantasiar. Para alguns especialistas em comportamento humano, o casamento é um exemplo de construção a dois, de um novo modelo, que não pode ser nem de um, nem do outro. De maneira mais específica: é um momento de adaptação de expectativas a um ponto de racionalização entre o irreal e o possível, onde ambos os parceiros deverão aprender a conviver com os pequenos problemas do cotidiano, para viver a realidade do possível.

O articulista Paulo Rebêlo relata em um artigo que, “adultos são tão ou mais crianças do que os próprios filhos”. Segundo Rebêlo é uma verdade tão factual que chega a ser embaraçosa, pois muita gente, quando sai de um relacionamento, mira-se no espelho e percebe o quanto atitudes infantis podem ter influenciado de forma negativa na união.

Homens e mulheres não permanecem mais em um casamento com tanta dependência. Estão mais libertos disto, ou seja, se desvincularam de ter de ficar com o outro mesmo com tantas inseguranças. Já não se sacrificam para permanecer com o parceiro. A mulher está mais segura, e quer um parceiro que a respeite e apoie. Já o homem não aceita uma mulher que não compartilhe com ele suas conquistas. Os dois mantêm-se juntos pela parceria da construção de uma família, que é um relacionamento sustentado em projetos comuns, respeito e um bom relacionamento afetivo.

Gikovate afirma: “Outro fator de peso está nas diferenças de temperamento (generosos e egoístas são bastante diferentes), de gosto e interesses. Na vida prática, no dia a dia, as divergências de opinião e a falta de um projeto comum provocam irritação permanente. E isso não vale só para as grandes diferenças. (…) E assim por diante. São justamente estas pequenas contradições que provocam a irritação, a raiva e, portanto, a maioria das brigas”.

Mas, nos melindres da relação, às mulheres, às vezes, são mais atentas que os homens, numa tentativa de constatar se fizeram realmente a escolha certa. “Quem quer casar-se pode chegar numa terapia de casais, mesmo no caso de namorados. O que é uma decisão muito saudável” – avalia Luiza Ricotta – psicóloga e escritora. O psicanalista carioca Paulo Sternick afirma que é muito comum encontrar dois extremos: os que decidem rápido, com segurança suspeita, como se nada estivesse ocorrendo, negando as preocupações; e aqueles que não conseguem decidir, tomados por incerteza e medo, incapazes de afastar as dúvidas diante do altar. Ele diz, porém, que nenhuma escolha é cem por cento certa. E as pessoas vivem, hoje, numa cultura indeterminista, e, portanto, é preciso adequar o pensamento à situação. O psicanalista Paulo Sternick – recorre à definição dada pelo filósofo Jean Baudrillard – para esclarecer que o ser humano jamais foi exemplo de estabilidade. No passado é que houve, isto sim, um modo de moldá-lo e descrevê-lo como se pudesse ser lógico, coerente e estável.

Em suma, é necessário ter em mente que se valer a pena ficar com o Outro, é importante ser capaz de tolerar as diferenças.