DE PONTA CABEÇA
“O gozo fálico é o obstáculo pelo qual o homem não chega, eu diria, a gozar do corpo da mulher, precisamente porque o de que ele goza é do gozo do órgão.” (1972-73, p. 15) Lacan.
A globalização estabeleceu valores, até então intocáveis. Chegou com uma mudança brusca, dos novos padrões a serem seguidos todos estão sujeitos a se igualarem, pois antes só os adolescentes faziam suas proezas que é inerente a sua condição: o imediatismo, pois esses estão em um mundo a ser descoberto – sujeitos em formação que no seu desenvolvimento afetivo/sexual, não namoram, mas saem ficando.
Ficar: termo ambíguo que é usado não no sentido de permanecer. Mas é a maneira superficial e breve dos jovens se relacionarem.
E os adultos? O que levou os indivíduos adultos, maduros cronologicamente agirem de ponta-cabeça?
O mundo virtual disponibilizou o poder. E ter poder é estar em uma posição superior – é uma vantagem que todos nós desejamos, pois dá uma sensação de segurança inatingível – de que se pode impor o próprio jeito de ser. E nesse jogo ninguém quer perder. Por isso, algumas pessoas reprimem o impulso de procurar o parceiro. Não querem ficar “por baixo”. Pensamentos como “eu não vou procurar.” Afinal, a virtualidade os faz acreditar nas tantas opções, que faz parte dessa síndrome de poder imaginário. Muitas vezes uma relação auspiciosa não vai à frente em função dessa espécie de orgulho e competição que não leva a lugar nenhum.
É através do vínculo que todos os seres se comunicam, mas se a mesma está dissociada – existem duas formas de proceder: a conquista tem o potencial para o amor, enquanto que “Ficar” é pura estimulação da libido que encerra no descartável. Conquistar, enamorar são formas de manifestar a individualidade e de realizar a subjetividade, capaz de superar obstáculos. A natureza erótica não ama sempre, e nem a todos, mas na medida em que o faz inteiramente, consuma o sentido da vida.
O amor só tem sentido se recíproco; enquanto que a paixão pode nos colocar em um delírio paranoico. A depreciação cultural dos afetos faz o homem contemporâneo se perder dos sentimentos bem-intencionados e se tornar fútil, a ponto de partir para conquistas a partir da posição em que se encontra com a virtualização exposta – as vitrines virtuais.
O desejo amoroso não tem nada a ver com a bestialidade ou com problema dos desejos instintivos e vazios, e o amor não é um paradoxo à autonomia, do contrário é preciso dispor de autonomia para amar. E no oposto do amor está à paixão, que se caracteriza pelo exagero, entusiasmo, admiração e obsessão, enquanto que o amor mantém as referências, preserva limites e medidas da realidade. A ideologia aversiva ao amor contempla esta liquidez do vazio regida pelo imperativo do gozo.
Na obra de Zygmund Bauman: “Amor Líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos” – destacam comportamentos do nosso dia a dia, do que há de mais concreto na vida do homem moderno com suas relações de amor: seus acessórios tecnológicos – que alimenta a crença de um mundo melhor e tranquilo –, a crença no amor como oásis em um mundo trágico e violento, as relações como uma rede computacional, a imprevisibilidade das relações, a queda da distinção entre o regular e o contingente, a traição, os relacionamentos de bolso – que podem ser usados quando as partes bem entenderem. (…)
A relação ideal ocorre a partir do companheirismo, da compreensão, do respeito, da lealdade e do amor próprio; pois para sentirmos amor pelo o outro, é preciso sentir o amor em si mesmo. Ou seja, quando conhecemos e sentimos amor por nós; mas nunca usando para estabelecer uma relação de superioridade ou inferioridade. Só assim, o verdadeiro relacionamento acontece, pois é necessário fazermos concessões, cada um doando um pouco de si, em busca do verdadeiro amor.
Referência:
Livro: Amor Líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos.
Autor: Zygmund Bauman.
Haffith Mansur
Sim, essa é uma boa observação.
Em muitas das vezes, pensamos e nos colocamos assim.
alvaro fernandes
Fisicamente fico imaginando da impossibilidade, mas no sentido filosofico da frase lacaniana…. de verdade??? Acho que 43 anos após esta constatação ela é bem atual, se considerarmos que as pessoas, como um todo se esquecem que pertencem ao genero homem ou mulher, criando inseguranças e necessidade de afirmações a todo momento. A partir dessa premissa a frase é magnifica….. Concorda……????
Mel Bustamente
Amiga, visto assim, só poderia adicionar que o verdadeiro e mais completo gozo, encontramos quando nos entregamos, sem medos, inseguranças, preconceitos ou orgulhos… ao deleite de todo potencial do amor… da ambos os lados e recíproca entrega!
Ai, ai… ai realmente é mútuo bom!
Salute!
FAUSTINO DE TOLEDO JUNIOR
SENDO GERALMENTE A PAIXÃO MOLDADO EM DESEJOS E FANTASIAS, O QUERER NO AMOR SE SUPERA EM QUERER QUANDO VERDADEIRO …