INTRODUÇÃO

Distorções cognitivas são pensamentos exagerados e irracionais, identificados pela terapia cognitiva e suas variantes, que em teoria perpetuam alguns distúrbios psicológicos. A teoria de distorções cognitivas foi apresentada por David Burns em 1989,[1] depois de estudar e desenvolver pesquisas na área com o professor e psiquiatra estado-unidense Aaron T. Beck.[2] É dito que a eliminação dessas distorções cognitivas melhora o sentimento de bem-estar e desencoraja a ocorrência de doenças como depressão e ansiedade crônica. O processo de aquisição pelo paciente de técnicas para refutar as distorções cognitivas diagnosticadas é chamado de “reestruturação cognitiva”.

As DISTORÇÕES COGNITIVAS E/OU DISTORÇÕES DO PENSAMENTO são basicamente maneiras distorcidas de processar uma informação, portanto, são interpretações distorcidas do que nos acontece, criando diversas consequências negativas. Quando se sofre de depressão, por exemplo, tem-se uma visão da realidade na qual as distorções cognitivas exercem um papel principal (visão de túnel). Todos nós podemos utilizar algum tipo de distorção cognitiva. Saber detectá-las e analisá-las ajuda-nos a desenvolver atitudes mais realistas e, acima de tudo, mais funcionais.

Citaremos algumas das distorções cognitivas e exemplos de situações:

PERSONALIZAÇÃO

Quando nos sentimos 100% responsáveis pelos acontecimentos. Por exemplo, o filho da Laura fez uma prova e não passou. A Laura pensa de pronto ter fracassado na educação do seu filho, acredita ter falhado, porque se tivesse feito tudo como deveria, seu filho teria sido aprovado.

FILTRO MENTAL

Consiste em focarmo-nos nos aspectos negativos e ignorar o resto da informação. O negativo é filtrado e absorvido, enquanto o positivo é esquecido. Exemplo: A Laura preparou um jantar e convidou alguns amigos. O prato principal foi elogiado por quase todos os convidados, com à exceção do Pedro, que comentou que não gostava de um dos acompanhamentos do prato. Laura sente-se mal, pelo comentário do Pedro, e passa acreditar que não é uma boa anfitriã. Ela só absorveu o negativo, ignorando totalmente os aspectos positivos.
Este tipo de distorção também está presente quando acreditamos que se algo aconteceu uma vez, acontecerá em todas as outras vezes. Por exemplo: Quando o relacionamento de alguns anos termina, o sujeito tende a pensar: “não irei mais encontrar uma pessoa como ele (a)”, e/ou nunca mais encontrarei alguém que queira levar um relacionamento sério comigo”.

MAXIMIZAÇÃO E MINIMIZAÇÃO

Essa distorção cognitiva consiste em maximizar os nossos próprios erros e os acertos dos outros, e minimizar os próprios acertos e os erros dos outros. “Não importa quantas coisas fiz corretamente no passado, elas não têm importância. O que importa agora é que cometi um erro gravíssimo.”

PENSAMENTO DICOTÔMICO

Consiste na extrema valorização dos acontecimentos, sem levar em conta os aspectos intermediários. Classificar as coisas como brancas ou pretas, verdadeiras e/ou falsas. Por exemplo: “Se este trabalho não ficar perfeito, o meu esforço não terá valido para nada”, e/ou quando uma pessoa não encontra emprego e pensa “sou completamente inútil!”.

CATASTROFIZAÇÃO

Ocorre quando prevemos o futuro negativamente sem considerar outros resultados mais prováveis. Exemplo: “O meu filho ainda não chegou, deve ter acontecido alguma coisa horrível. Vou esperar um pouco, mas não vou conseguir dormir.” Outros exemplos: “O meu namorado não atende o celular, pode estar com outra”.

GENERALIZAÇÃO

Ocorre quando generalizamos de um caso, para todos os casos, mesmo que seja apenas ligeiramente idêntico. Se uma vez foi verdade, será sempre assim: “comigo nada de bom acontece”; “Nunca vou me casar”; “Eu nunca termino o que começo”; “Eu jamais vou conseguir deixar de fumar”; “Não dormi bem ontem, a minha insônia vai durar para sempre” e/ou “Nunca vou conseguir ter uma carreira brilhante, como desejo”.

RACIOCÍNIO EMOCIONAL

Refere-se à suposição de que as nossas emoções refletem as coisas como elas são. É acreditar que o que sentimos no momento é o correto e verdadeiro. “Estou me sentindo um incompetente, logo sou totalmente incompetente!” e/ou “Eu sinto que é assim, consequentemente, isso tem que ser verdade”.

AFIRMAÇÕES DE COMO OS ACONTECIMENTOS DEVERIAM ACONTECER

São crenças rígidas e inflexíveis de como nós e/ou os demais deveriam ser. As exigências concentradas em nós próprios favorecem a autocrítica, enquanto as dirigidas aos outros favorecem a raiva, a ira e a agressividade. Alguns exemplos podem ser: “Deveria ter dado mais atenção ao meu marido, assim ele não me teria deixado”, “Não devo cometer erros”, “Os outros devem-se portar bem comigo” e/ou “Preciso gostar de todos.”

LEITURA DA MENTE

Consiste em afirmar que determinadas suposições são certas, mesmo que não exista nenhuma evidência que a comprove. Acreditar que se sabe o que os outros pensam e o motivo de se comportarem como se comportam. “O que ele quer é deixar-me nervoso!”, “O que ele quer é rir-se de mim!”, “Eles sentem pena de mim!” e/ou “Ela só está comigo por dinheiro!”

PREMONIÇÃO DO FUTURO

Consiste em afirmar que determinadas suposições são certas, mesmo que não exista nenhuma evidência para as comprovar, é esperar que nada dê certo, sem sequer permitir a possibilidade de que seja razoável e/ou positiva. “Tenho certeza de que vou reprovar.”, “Ninguém me dará atenção na festa”.

ROTULAGEM

Utilizar rótulos pejorativos para nos descrevermos, ao invés de descrever os nossos atos e qualidades com objetividade e exatidão. Por exemplo: “Sou um inútil!” ao invés de “Cometi um erro, mas nem sempre faço isso.”

VITIMIZAÇÃO

A pessoa tende a se sentir vítima e não responsável pelas suas escolhas. Percebe-se sem sorte ao invés de perceber que “Quem faz para si faz!” e que ela mesma é o “comandante do seu navio”, o “diretor da sua novela.” Por exemplo, tende a culpar os outros por sua má sorte no trabalho ou no amor.

CONCLUSÃO

À auto-análise, que poderá vir acompanhada da psicoterapia é uma maneira do sujeito se questionar quanto às suas convicções, bem como a sua maneira de levar a vida. E se a partir de agora, começarmos a estar mais atentos? Agora, que já as reconhecemos, podemos questioná-las. Assim, poderá ser mais fácil procurarmos alternativas que façam mais sentido e que nos sejam mais benéficas.

REFERÊNCIAS

Beck, A. T. (1979). Cognitive Therapy and the Emotional Disorders. New York: Meridian.
Rodrigues, Joana De São João. (2017). Psicóloga Membro Associado da Associação Portuguesa de Terapias Comportamental e Cognitiva
Distorção Cognitiva – Wikipedia, a enciclopédia livre