“Líquidos mudam de forma muito rapidamente, sob a menor pressão. Na verdade, são incapazes de manter a mesma forma por muito tempo. No atual estágio “líquido” da modernidade, os líquidos são deliberadamente impedidos de se solidificarem. A temperatura elevada — ou seja, o impulso de transgredir, de substituir, de acelerar a circulação de mercadorias rentáveis — não dá ao fluxo uma oportunidade de abrandar, nem o tempo necessário para condensar e solidificar-se em formas estáveis, com uma maior expectativa de vida”.  Zygmunt Bauman.

INTRODUÇÃO:

Os adventos da modernidade contemporânea se tornaram de grande relevância para nós seres humanos. Imagine se não houvesse os cosméticos; a estética tão bem requisitada; às cirurgias plásticas; academias de ginástica; telefone celular e internet nos dias atuais. A vida seria mais complexa, sem graça e angustiante? Ou continua angustiante diante de tantas informações, onde o saudosismo está quase extinto com a era digital? Tendo em vista, que depois da era digital as pessoas só se tornarão saudosas, quando de fato partirem do plano físico. No mais basta um clique, para encontrarmos na sociedade digital as pessoas que outrora jamais veríamos. O nosso passado se faz presente e atual. O que também é bom, mas por outro lado nos furta aquele momento vivido e tão detalhado que deveria ser guardado no coração.

DO DISTANCIAMENTO FÍSICO:

Na contemporaneidade, o fenômeno da globalização também causa alguns problemas, bem como o distanciamento físico entre as pessoas – devido à avidez dos meios de comunicação do século XXI, o contato presencial tem diminuído nos últimos anos e há uma predisposição a diminuir cada vez mais. Toda essa mudança aconteceu e continua evoluindo, pois é mais cômodo fazer uma ligação, enviar uma mensagem a um amigo, por exemplo, do que encontrá-lo pessoalmente. E há de vir tecnologias muito mais avançadas.

DO AMOR LÍQUIDO, DESCRITO POR BAUMAN:

“O sociólogo Zygmunt Bauman tem uma explicação plausível no seu livro: “Amor Líquido”, Bauman analisa, o que torna as relações humanas altamente vulneráveis e as consequências desse processo, entre elas, a insegurança nos relacionamentos, seja em novas amizades cultivas e começadas pela rede e nos relacionamos entre homem e mulher, essa modernização também apresenta grandes reflexos. Atualmente, os namoros tendem a durar menos. Poucos acreditam no verdadeiro amor, no “feliz para sempre”. Essa vulnerabilidade é consequência dos efeitos do espírito de nosso tempo, marcado pela velocidade, pressa, impaciência e muita ocupação. O vínculo amoroso exige paciência e tolerância à frustração, ao mesmo tempo em que limita a liberdade extravagante do indivíduo, a liberdade extra do sujeito vagante”, afirma Bauman.

DAS DIVERGÊNCIAS:

Na era globalizada, as pessoas se conhecem e tudo acontece no digital, logo, “eu estou apaixonado”, já está no ar. Porém, desta facilidade é comum percebermos que as pessoas ao saírem juntas algumas vezes, e se conhecerem pessoalmente dão de cara com seus indesejáveis defeitos, assim, é mais fácil desaparecerem um da vida do outro, do que tentar se adaptar às diferenças, que são inerentes a singularidade humana. Das divergências surgem algumas frases comuns, como:

– “eu-não-vou-mudar”

– “eu-sou-assim”

– “eu-não-tenho-mais-idade-para-fazer-concessões”.

Mas, como esquecer o parceiro (a), com o mínimo de dor e apagá-lo (a) das nossas lembranças? Basta excluir das redes sociais, e pronto! Dessa forma, os problemas estão parcialmente resolvidos. Mas, a vida se torna fugaz, se não buscarmos um sentido para ela. Não podemos viver do imediatismo – se desejarmos relacionamentos sólidos.

“Para o psicanalista Contardo Calligaris, da mesma forma como as ações, as relações que nascem na rede não são virtuais, defende. Mesmo com o mito que se mente mais na rede quando se quer conhecer um parceiro ou amigos, o psicanalista defende que o comportamento é o mesmo do mundo real. Quando se conhece alguém no mundo físico, é como um baile de máscaras. Você nunca sabe tudo. Mesmo fisicamente, as pessoas fazem cirurgias plásticas”. (…) “Para ele o jogo de esconde e mostra na internet – tanto na personalidade como fisicamente – faz parte da plástica lúdica. “Há casais que se conhecem na web e se casam”. “E outras pessoas que não se conhecem fisicamente, mas mantém uma relação muito real”. “Não há distinção entre real e virtual”, afirma Calligaris.

O MEDO DAS DECEPÇÕES:

O mundo de oportunidades quase infinitas aumentou imensuravelmente, no entanto, a insegurança e a desconfiança se agravaram. Muitas pessoas evitam vínculos afetivos e consistentes com medo de sofrer amargas decepções -, porque, provavelmente, já viveram em algum momento de suas vidas. Vivemos em uma cultura da falta de ética, do cinismo, da deslealdade, da inveja e traições. Os valores são seguidos pelas redes. A sociedade digital oferta oportunidades infinitas, o que poderá culminar em confusões psíquicas, caso não houver foco e equilíbrio. É necessário estabelecer valores peculiares, para que se possa encontrar nesse contigente de ofertas pessoas de verdade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Não sei se são as relevâncias de uns tantos problemas, mas alguns acontecimentos no cotidiano das pessoas nas redes sociais e seus respectivos relacionamentos merecem mais atenção. Reporto-me à ilusória ideia de naturalidade que parece instigar a comunicação e os fascinantes afetos do mundo digital. É da natureza das redes sociais nos fascinar a repetição. Entretanto, depois de seguir mecanicamente os desejos cibernéticos -, observamos que as relações construídas na internet e a forma como as pessoas se mostram nas redes, na verdade, são bem reais. O comportamento na maioria das vezes percebidos no digital, é o mesmo mantido fora dele. Não raro no virtual as pessoas se mostram como realmente desejam ser – rompendo com o ideal de ego construído pela sociedade. De fato, pode ser mais real do que as vivências do cotidiano. Finalmente, a contribuição cibernética tem favorecido bastante a todos nós. Muito embora, a saga seja longa, quando se tem objetivos sólidos.

REFERÊNCIA:

Zigmund Bauman – AMOR LÍQUIDO