Em seu poema Amar, o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) pergunta: “Que pode uma criatura senão, entre criaturas, amar?/ amar e esquecer,/ amar e malamar,/ amar, desamar, Amar?/ sempre, e até de olhos vidrados, amar?”.

Amar é o que desejamos numa relação. E, quando encontramos o amor, parece que um mix de leveza e encantamento nos adentra. Mas, como ocorre em outros segmentos de nossa vida, o amor passa por modificações e a vivência em cada uma delas é que vai fortalecê-lo ou matá-lo.

A ciência diz que quando apaixonadas, as pessoas ficam como que drogadas, devido a certas substâncias químicas produzidas pelo organismo que dão a sensação de satisfação. Quando passa a fase do encantamento e da etapa romântica, quando tudo é encanto e fantasia, pode-se partir para desilusão ou para harmonia.

Na verdade, nem tudo no dia a dia são rosas, e, administrar uma relação, é buscar ouvir e respeitar o parceiro, estar sempre atento às mudanças e nuances da trivialidade é fundamental para a manutenção do amor. Afinal, ninguém sabe quanto tempo vai durar esse “estado de graça” e, se o amor não for bem cuidado, a relação poderá entrar numa fase de desencanto, quando bate a sensação de que a pessoa dos sonhos parece ter se tornado uma pedra de gelo que se desfaz em nossas mãos. É sério, porque agora aquele “amor cego” começa a enxergar problemas que não via. Na dor, o amado se pune: “Eu não podia ter feito isso comigo, como pude me enganar tanto!” O que determina o rumo dos acontecimentos é a capacidade dos envolvimentos de cair na realidade sem perder o equilíbrio, respeitando o outro e a si mesmo.

O que faz a união de um casal?

Admiração, respeito, afinidades e desejo. A ordem não importa, mas são ingredientes essenciais. Sem desejo seria amizade sem os resquícios do fulgor da paixão, que houve um dia e é importante para a durabilidade da relação. Sem admiração, trata-se de um casal de amigos que optam em manter as aparências pelos mais diversos motivos. Sem algumas afinidades não há possibilidade da troca mínima necessária e no limite não há possibilidade de compreensão. Sem ternura, não há relação, mas dor, ressentimento, falta de cuidado. É necessário ainda mais, é necessário respeito pelas diferenças e pela individualidade. Quando a compreensão de todo não é possível entre um casal devido as diferenças próprias entre os sexos faz-se suficiente apenas aceitar a diferença ou seguir adiante. O respeito à individualidade são fundamentais para o sucesso da relação. Parece difícil? Quem disse que a vida é fácil? E se relacionar dá trabalho, sim. Como diz, Roberto Freire, “sem tesão não há solução”.

Quando os parceiros buscam o diálogo, adequando intimidade com individualidade, amando, mas sem sair da realidade, sem idealizar o outro, a relação entra na maturidade, atinge a fase da harmonia, na qual o que prevalece é a realidade, além do respeito ao outro e a si mesmo. A relação então poderá se reorganizar em bases sólidas. Mas isso exige dedicação e tempo. Afinal, o encantamento pode ocorrer de repente, mas uma relação plena, não.