“O que aceito, isto vai para parte de minha alma que eu conheço, o que eu rejeito, vai para parte da alma que eu desconheço”.
C. G. Jung.

Entre as causas e motivações conscientes das traições está a vingança: aquele que foi traído sente raiva do parceiro, não conseguindo resolver está mágoa fica num dilema consigo mesmo, vivendo sempre a margem da vingança e autodestruição.

Ainda que as estatísticas mostrem que as mulheres começam a trair mais, o modelo de traição que predomina é a traição masculina (continua sendo muito comum a imaturidade masculina). Claro que, na juventude, é natural o flerte e a aventura. Surgi à curiosidade que vem dos hormônios. Só que uns levam isso à frente e para sempre. A sociedade ainda é machista: o homem livre é o pegador, ou o mais popular no passado o “garanhão” – e a mulher livre é chamada de vagabunda, galinha, piriguete e outros julgamentos atribuídos ao sexo feminino. De acordo com a sexóloga Carmita Abdo, “vagabunda é aquela mulher que você quer, mas não te quer”. Aquela que transou com vários não estaria interessada em estabilidade. “Será que eu vou dar conta?”, pensa ele. Como se pudesse controlar a futura dor de uma rejeição ou troca.

Isso não quer dizer que é mais realizado na vida amorosa quem faz sexo com muita gente, seja homem ou mulher. Às vezes, as próprias mulheres não relatam seu passado, por temer a maioria dos homens machistas – acabam dizendo que não tiveram muita experiência, ou nunca se sentem à vontade para relatar. Poucos homens conseguem aceitar a experiência sexual das mulheres. Mas o porquê saber das experiências de nossos parceiros no passado? Afinal, todos têm um passado com poucas ou mais experiências que só diz respeito à pessoa. Os homens mais agressivos com as mulheres sentem dificuldade de lidar com a ideia de que elas têm desejo sexual próprio. “É como se a virilidade deles fosse transferida para elas”, afirma o psicanalista Contardo Calligaris. São homens capazes de agredir uma mulher por estar de saia curta. A vida sexual deles costuma ser frustrante, limitada e triste.

Nesse caso o homem continua com a mesma consciência, não reprimir o desejo (por querer mais sexo ou variedade erótica do que encontra no relacionamento) “é o desejo ardente por liberdade, por considerar ter uma única mulher uma escassez”. Não raro, é uma forma de controle, manipulação e poder.

Há quem diga que trai para salvar o casamento: embora tenha insatisfações em relação ao parceiro, acredita que é melhor estar casado; ou quer se separar, mas tem receio à reação do cônjuge. Para estes, trair é um jeito de amenizar o convívio com o cônjuge que não deseja mais.

Já se tornou comum dizer que a postura infiel não gera culpa nem confusão a vida da pessoa, e se ela souber manipular a variedade de experiências e os riscos de ser descoberta, então sua infidelidade é apenas uma escolha – e, subentende-se, suportável. É o perfil de vida individualista atual, que suporta atitudes egoístas e banaliza comportamentos cínicos.

Na realidade, quando alguém se vê obrigado por outra pessoa a passar por situações inaceitáveis estará sendo vítima de uma relação de poder e sua saúde mental/emocional estará à mercê das dores que somatizadas poderão desencadear patologias. É o caso da traição. Trair é um ato de poder. Deixaria de sê-lo só se a opção fosse escolha de ambos. Nesse caso não existe traição, o relacionamento é aberto não tem exercício de poder. É uma escolha dos parceiros, que eticamente combinaram necessidades mútuas. A liberdade nas relações afetivas.

Traição são casos levados aos consultórios dos psicoterapeutas com muita frequência. Enquanto formos tolerantes. com atos infiéis, estaremos retardando a evolução dos relacionamentos afetivos.