“É a verdade do que esse desejo foi em sua história que o sujeito grita através de seu sintoma.” (Jacques Lacan, Escritos)

INTRODUÇÃO:

A apresentação deste artigo tem como objetivo abordar a Histeria versus Obsessão. Indicando que a psicanálise e a psicoterapia psicanalítica são abordagens terapêuticas eficazes nessas categorias diagnosticadas.

Para a psicanálise, há três Estruturas Clínicas: Neurose, Psicose e Perversão. Entretanto, a psiquiatria não utiliza a nomenclatura Perversão, mas, sim, Psicopatia, muito embora tenha o mesmo significado, quando abordamos essa estrutura clínica. No entanto, o presente artigo busca elucidar de forma concisa a estrutura Neurótica, que ficará restrita aos dois principais tipos clínicos de neurose: Obsessão e Histeria.

DA HISTERIA X OBSESSÃO:

 “Há quem diga que as pessoas, na verdade, não encontram “o parceiro”, e sim a neurose que as completa”.

“É fato corriqueiro que neuroses se atraem. O mais conhecido é o par mulher-histérica, homem-obssessivo. Ela o alimenta com a sua eterna insatisfação, ele lhe responde com a onipotência servil que ela adora, pois dá nova chance dela reclamar que não é ainda bem isso o que ela queria, o que faz que ele tente uma nova resposta, e assim por diante, até que a morte os separe, ou um deles se trate”.

DO RELACIONAMENTO HISTÉRICA X OBSESSIVO

O relacionamento da histérica com o obsessivo reproduz o encaixe do parafuso com a porca, que traz a confiança da existência na intensidade entre os sexos, na complementação de um pelo outro. Eis aí o apelo imaginário que sustenta a união, mas eis aí, também, o logro que faz a tormenta do casal. “O domínio de tapar do obsessivo só tem semelhança na angústia de esburacar da histérica.”

Como o obsessivo trata a histérica? O ser da histérica é atraído pela paixão à figura do Mestre, pela paixão e admiração ao seu conhecimento. O sujeito histérico é o objeto perfeito para o sujeito obsessivo. Existe nessa parceria um conluio inconsciente entre o histérico e o obsessivo.

E como a histérica seduz o obsessivo? O ser da histérica é como a abelha rainha que faz seu voo nupcial com zangão e depois mata-o. Sua intenção num primeiro momento, é a de reconhecê-lo, mas, num segundo momento, é a de destituí-lo e/ou destruí-lo ao apontar-lhe a falta. Por exemplo, é como à mulher debochada que “prova” ao seu marido que ele não consegue amá-la da forma como ela deseja.

“O sujeito da obsessão, por seu turno, visa de imediato à destruição do outro na constituição de seu desejo. Trata-se de uma destruição articulada no nível do significante. Isso num primeiro momento. O problema é que a destruição do outro, nesses termos, resulta na destruição do próprio sujeito, pois se trata do sujeito da fala. Como consequência, o obsessivo, num segundo momento, visa à restauração amorosa do outro. O que era ódio se converte em servidão. Tudo para o outro. Na tentativa de reparar o dano causado” (Teixeira, 2010, p. 51-61).

DO DESAFIO ENTRE HISTÉRICA X OBSESSIVO:

Por isso, a histérica e o obsessivo estão sempre em constante conflito. Razão pela qual o relacionamento da histérica com o obsessivo poderá continuar para sempre até que a morte os separe, mas, em contrapartida, tem tudo para acabar pelos intensos e destrutivos conflitos. Muito embora, esse final não seja objetivo é por conseguinte subjetivo. Não temos como prognosticar.

E qual é a posição da histérica? Basicamente, ela se apresenta como a toda poderosa, sedutora, encantadora, instigante, manipuladora, provocativa sexualmente. Entretanto, existe algo de particular nessa oferta; ela retrocede, ou se retira, quando o conquistador se aproxima. Ela se põe como objeto que se furta de um compromisso.

Mas, essa estrutura, é bem conhecida pela a forma segundo a qual a histérica tem desejo de desejo insatisfeito. Satisfazer o desejo é destruir o desejo; sendo assim, insatisfazê-lo é elevá-lo à sua plenitude. Nada de gozo. A histérica não quer gozar. De forma mais clara, a histérica não quer realizar. A histérica seduz, mas não realiza. Deixando o obsessivo sempre a correr atrás daquilo que quem sabe poderá um dia preencher a sua insatisfação. Nesse aspecto, obsessivo e histérico não encontram o caminho certo para que ambos se entendam. Aliás, entre essas duas estruturas isso é praticamente impossível.

Eis a questão, se o obsessivo anula a histérica – ele destitui o parceiro  como sujeito, ele o reduz à condição de objeto – objeto de seu gozo. A histérica ocupa a posição de objeto com prontidão, nesse aspecto, ela favorece a parceria amorosa com o obsessivo. Por outro lado, o encontro do desejo impossível de um com o desejo insatisfeito do outro é um embaraço previsto dos seus constantes conflitos, porém, instigante e sedutor.

E qual a posição subjetiva do obsessivo em relação à questão do desejo? Para ele, o objeto de desejo é ilusóriamente sustentado pela proibição do outro, ou seja, da histérica. O suplício do obsessivo, então, é este: o desejo desaparece quando o objeto a ele se entrega. De forma mais clara, o obsessivo deseja a conquista, isso o instiga, mas quando ele conquista, corre o risco de perder o desejo, ou vai atrás de algo mais desafiante.
Eis o porquê, a histérica e o obsessivo mantém uma relação de desafios. O desafio os instiga a manter o jogo da conquista.

“Existe pessoas que se deixam atrair tanto pelas qualidades quanto pelos defeitos das outras, ao contrário, existe pessoas que se deixam atrair mais pelos defeitos. Trazem algo dentro de si, inconscientemente, ou, às vezes consciente, mas por seus dilemas não conseguem corrigir a causa, desencadeando nos sintomas.

CONCLUSÃO:

O defeito também é sedutor, atração não segue regra de bom senso algum. Os exemplos são inúmeros, desde os mais banais, da mulher-enfermeira, sempre correndo atrás de um homem problemático que ela vai salvar; ou do homem-professor que quer ensinar a fineza da vida à mulher debochada, como em My Fair Lady. A relação dura enquanto houver o defeito, por isso que muitos namorados ou namoradas não querem que seus parceiros façam análise: têm medo de perde-los”.

Concluímos que a parceria amorosa da histérica com o obsessivo é de tal ordem que os aspectos determinantes da aproximação são exatamente os mesmos que desnorteiam o relacionamento. Dizer que tem tudo para dar certo é tão oriundo como afirmar que tem tudo para dar errado. Mais uma vez, não há regras, não há garantias e não há como se guiar por valores universais. As estruturas e os tipos clínicos são generalizações, são abordagens universalizadoras. Numa experiência psicanalítica, cada parceria, cada sujeito terá uma história e um desfecho que serão da ordem da singularidade, e não há estatística possível quando o caso é singular.

Referências

LACAN, J. (1985). O Seminário: livro 3: as psicoses. (1955-1956). Rio de Janeiro: Jorge Zahar

Soler, C. (1993). Fines del analisis. Historia y teoria. In: Finales de Analisis. (p. 29). Buenos Aires: Manantial

Teixeira, A. M. R. (2010, janeiro/julho). As bodas sintomáticas do obsessivo com a histérica. In: Agora: estudos em Teoria Psicanalítica, 13 (1), 51-61

Forbes, Jorge – Conferências. In: Você quer o que deseja?, São Paulo: Editora Best Seller, 2003, p. 63-107

BARRETO, Francisco Paes. A Direção do Tratamento da Histérica e do Obsessivo