“O homem sério é perigoso, pode transformar-se em tirano”.

Simone de Beauvoir

Toda emoção pode ser positiva, mas toda emoção, também, pode trazer resultados bons e ruins. Dependendo de como cada um controla seus sentimentos. A questão é que ao que parece muitos de nós não controlamos os impulsos do ciúme, inveja e projeção.
É quase impossível na raça humana existir alguém que não sinta um pingo de ciúme em um relacionamento a dois. Quando temos um objeto de amor, é comum que não queiramos dividi-lo com outro. O ciúme é uma emoção normal, porém, há variações de intensidade.

No ciúme patológico, o ser humano vive num eterno conflito entre os impulsos (o que deseja realizar) e as normas (o que deve ou pode fazer). Percebemos que em cada situação existem tipos de convivência, por exemplo, “os desajustados”: aqueles que se deixam dominar pelos impulsos, e os que vivem sempre “dentro dos padrões”. Esse último, muito racional, se uniu ao emocional, para viver nele o que reprime em si mesmo e vice-versa. Quando o ciúme não pode ser controlado racionalmente temos um desajuste emocional, então, é preciso muito mais que força de vontade para vencê-lo.

A inveja, por sua vez, é um sentimento destrutivo, motivado por outra pessoa possuir e usufruir de alguma situação ou algo que desejamos. Presume-se, a relação do sujeito com uma só pessoa. Na inveja, somos prisioneiros do outro. Identificamos o objeto do nosso desejo, mas que não nos dá prazer e nos frustra. A inveja é insaciável. A inveja faz do ser humano um inescrupuloso predador.

Quando falamos em projeção é possível perceber que ela aparece desde a infância – encontra-se na base da interação com a realidade, portanto, é comum imputar ao mundo nossos interesses: adjetivos, aptidões e anseios. Vemos as coisas de acordo como somos. Nossa identidade se confunde com a realidade. A projeção se torna um mecanismo de defesa psíquico quando visa nos resguardar de ideias insuportáveis ou sentimentos descabidos. Tem como objetivo preservar a boa imagem que fazemos de nós.

É um mecanismo psíquico pelo qual o sujeito expulsa e rejeita em si e projeta no outro os seus sentimentos: desejo, raiva, inveja, etc. São traços de personalidade que, frequentemente, desdenha ou recusa em si mesmo.

Por exemplo: uma criança rebelde, que bate em seus coleguinhas e confronta seus cuidadores se assusta ao olhar um cachorro, afirmando que o cachorro é bravo e que tem medo de ser mordida. O que a criança faz? Desloca para o animal aquilo que costumava fazer com os outros. Assim, acontece com os jovens que praticam o bullying, utilizam o mesmo mecanismo psíquico – projetam em pessoas o que odeiam possuir. Perseguem da mesma forma como um paranoico que se sente perseguido. Essa projeção está na base da Paranoia e na base de todos os preconceitos.

Às vezes, é mais fácil a fuga de um perigo externo do que mudar seu impulso interno agressivo, angustiante e/ou inaceitável. Porém, o impulso que é projetado no outro é um processo que se repete. Pois, não se trata do que os outros fazem com o paranoico, e sim, o que ele faz, pensa e sente.

Em suma, nos relacionamentos amorosos, o mecanismo é chamado de ciúme patológico e acontece quando a pessoa se defende de seus próprios desejos. Por exemplo: a infidelidade – o sujeito projeta no parceiro a infidelidade. Esse mecanismo de projetar os próprios desejos pode ser tão bem executado que costuma levar alguns parceiros a duvidar deles mesmos. De alguma forma inexplicável, o ciumento patológico consegue juntar situações, lembrar cenas e acusações que aparecem em alguma verdade inconsciente do outro, mas não nos fatos! Assim, ele desloca para o outro aquilo que habita nele e desvia a atenção do seu próprio inconsciente. Sente-se aliviado, porque, agride o outro para não se agredir. E ao mesmo tempo descarrega os sentimentos proibidos, que causam angústia e ansiedade.

O filósofo Platão comparou o ser humano a uma carruagem: os cavalos são os instintos, o cocheiro é a razão e as rédeas, à vontade. Segundo ele, a maturidade depende de quanto o cocheiro manda nos cavalos. Essas pessoas parecem não conseguir domar seus cavalos, isto é, controlar seus sentimentos. Felizmente, o ciúme é educável e pode ter suas arestas aparadas — para a solidez da relação.

O autoconhecimento e a capacidade de nos conhecer: minimiza a ação desse terrível mecanismo.
A força de vontade não é suficiente para vencer uma compulsão. Ao perceber que não tem o controle da situação, procure ajuda profissional. Do mesmo jeito que, se tivesse uma dor de cabeça aguda, iria atrás de um neurologista, sem considerar tal providência uma atitude radical.

Fonte própria