No presente artigo abordaremos os diferentes transtornos: psicopatia versus psicose. Há uma divergência no entendimento de ambos os transtornos de personalidade. Mas como identificar um psicopata e não confundi-lo com um psicótico, ou não cometer o erro de nivelar ambos os transtornos?

Antes de abordarmos as diferenças entre os transtornos, é preciso saber o seguinte: “Psico quer dizer mente; Pathos, doença”.

Portanto, o psicopata não é um doente mental da forma como nós o percebemos. O doente mental é o psicótico, que sofre com delírios, alucinações e não tem ciência do que faz. Vive uma realidade paralela. Se matar, terão atenuantes. Já o psicopata sabe exatamente o que está fazendo. Ele tem um transtorno de personalidade. É um estado de ser no qual existe um excesso de razão e ausência de emoção. Ele sabe o que faz, com quem e por quê. Mas não tem empatia, a capacidade de se pôr no lugar do outro.

DA PSICOPATIA:

A psicopatia não é visivelmente uma patologia como é o caso explícito da psicose. Os psicopatas ao contrário do que se pensa têm a real consciência do que estão praticando e, sentem prazer em praticar a maldade a quem cruza o caminho deles, sem remorso algum. Até profissionais da área, como os médicos psiquiatras, que já estão habituados a todas as armadilhas de quem têm esse tipo de transtorno, podem cair “nos encantos deles”. Eles são os mestres da encenação; são os atores da vida real.

DO TRANSTORNO PSICÓPATICO:

Psicopatia é o “câncer da psiquiatria”. É um transtorno grave e não tem cura. Passam tranquilamente como sujeitos sociáveis. Segundo dados internacionais, os psicopatas são 4% da população, 1% serial killers, (os que cometem assassinatos em série). Mesmo os psicopatas mais “brandos”, que fazem pequenas maldades, não têm cura. E definir pequena maldade é subjetivo. Para uma pessoa a atitude e comportamento de um sujeito pode ser uma pequena maldade, na contrapartida, para outra, a mesma atitude pode ser sentida com mais intensidade e causar um dano mais sério.

“Apesar do ainda controverso tema da existência do instinto agressivo em nossa espécie, pelo menos entre as teorias psicanalíticas não há dúvidas sobre a natureza da compulsão à repetição e características sádicas de suas manifestações descritas por Freud no célebre ensaio: Além do princípio do prazer, 1921.”

A maioria das maldades do psicopata é de caráter psicológico e não físico. Por isso, suas vítimas em potencial são àquelas pessoas generosas. Um exemplo clássico: o psicopata se aproveita de pessoas bem-sucedidas com promessas – ganha a confiança da vítima e destroe sua vida. Uma forma usual de o psicopata golpear o outro: pede dinheiro, promete pagar, assim que se estabelecer o negócio. Depois o que resta a vítima são os transtornos que terão que enfrentar, inclusive, emocional. Às vezes, a dor psicológica dói até mais. Esses seres são monstros em pele de cordeiro e estão em todas as camadas sociais. Eles podem ser desde um falso colega de trabalho oportunista, que vive se fazendo de vítima, trapaceiros políticos, empresários, religiosos, filho (a), esposo (a). No entanto, escondem tais características de forma que socialmente são vistos como pessoas normalíssimas, cujos verdadeiros instintos ninguém é capaz de desconfiar.

DO TRATAMENTO PARA PSICÓPATIA:

Psiquiatras alertam que, o tratamento para o psicopata não funciona, inclusive, intensifica a maldade com o tratamento. Os psicopatas são inteligentes. Eles usam o conhecimento adquirido na análise para aperfeiçoar ainda mais a maldade. Com mais conhecimento eles irão ferir mais intensamente as pessoas que estão a sua volta. A psiquiatra Ana Beatriz Barbosa, afirma: “O grande tratamento para os psicopatas é a postura que temos com essa pessoa”. A grande arma da sociedade, segundo a médica psiquiatra, é não tolerar a impunidade.

DO ESTUDO CIENTÍFICO NA PSICOPATIA:

“Pesquisas feitas pelos brasileiros: O neurologista Ricardo Oliveira e o neurorradiologista Jorge Moll descobriram a prova definitiva dessa diferença da mente psicopata, por meio da chamada ressonância magnética funcional, que mostra como o cérebro funciona de acordo com diferentes atividades. Nesse exame, mostraram imagens boas (belezas naturais, cenas de alegria) e outras chocantes (morte, sangue, violência, crianças maltratadas). Nas pessoas normais, o sistema límbico reagia de forma diversa (o sistema límbico é o responsável pelas nossas emoções). Nos psicopatas, não há diferença. O sistema límbico dessas pessoas não funciona. O pôr do sol ou uma criança sendo espancada geram as mesmas reações. Da mesma forma, não há repercussão no corpo. Eles não têm taquicardia, não suam de nervosos. Em suas cabeças sempre estarão certos e, principalmente, acima do bem e do mal. Por isso passam tranquilamente num detector de mentiras.”

DA PSICOSE (ESQUIZOFRÊNICA)

Culturalmente, o esquizofrênico representa o estereotipo do “louco”, um sujeito que produz grande estranheza social devido ao seu desprezo para com a realidade. A esquizofrenia é uma doença psiquiátrica que deve ser diagnosticada e tratada rapidamente. Ela se caracteriza por alterações no pensamento, no afeto e na vontade. Os principais sintomas são: delírios, alucinações e retraimento social. Delírios são ideias distorcidas, irreais, que o sujeito acometido pela doença percebe como reais, como as manias persecutórias. No transtorno psicótico, o sujeito se sente perseguido. De repente, a pessoa cisma, por exemplo, que o FBI o está perseguindo. Tudo que ocorre a partir de então, gira em torno dessa ideia delirante. Outro aspecto diagnosticado no TPP (esquizofrenia) é a mania de grandeza e místicoreligiosos.
O esquizofrênico age como alguém que rompeu as amarras da concordância cultural, menospreza a razão e perde a liberdade de escapar as suas fantasias.

DOS SINTOMAS PSICÓTICOS (ESQUIZOFRÊNICOS):

É importante ressaltar que esquizofrênicos se isolam e diminuem à interação afetiva. Esquizofrênicos têm mais dificuldade para interagir socialmente e acabam se isolando. O transtorno cursa com períodos em que os sintomas são mais intensos (episódios psicóticos agudos), mas quando tratados perdem intensidade (fase de estabilidade) e a pessoa leva uma vida praticamente normal. A psicose surge em sujeitos com predisposição genética a desenvolver a doença. Apresenta características como: delírios e/ou alucinações. Vale ressaltar que a família ao perceber esse tipo de comportamento, deve levar o sujeito ao psiquiatra para que seja feito o diagnóstico e estabeleça um tratamento. Quanto mais cedo o transtorno for diagnosticado e tratado, melhor a evolução do tratamento. A rapidez é importante para uma melhor qualidade de vida.
Segundo alguns especialistas, aproximadamente 1% da população são acometidos pela doença, geralmente iniciada antes dos 25 anos e sem predileção por qualquer camada sociocultural.

DO DIAGNOSTICO ESQUIZOFRÊNICO:

O diagnóstico se baseia exclusivamente na história psiquiátrica e no exame do estado mental. É extremamente raro o aparecimento de esquizofrenia antes dos 10 ou depois dos 50 anos de idade. Não há nenhuma diferença na prevalência entre homens e mulheres.
Usualmente o paciente com esquizofrenia mantém clara sua consciência e sua capacidade intelectual com o tratamento. Por isso é necessário ser acompanhado por médico psiquiatra.

“A loucura é diagnostica pelos sãos, que não se submetem a diagnóstico”. Há um limite em que a razão deixa de ser razão, e a loucura ainda é razoável. “Somos lúcidos na medida em que perdemos a riqueza da imaginação”. Carlos Drummond de Andrade.

DAS DIFERENÇAS ENTRE O PSICOPATA E O PSICÓTICO (ESQUIZOFRÊNICO):

O psicopata tem um déficit no campo das emoções, é incapaz de sentir amor e/ou compaixão, é indiferente em relação ao outro – já o esquizofrênico é o oposto, ele tem afeto em excesso, é extremamente sensível e, de tanto sentir e não se expressar, surta. Mas, isso não isenta o psicótico de cometer algum tipo de crime, se, porventura, ocorrer um surto psicótico.
No caso do psicopata, ele não enlouquece nunca, pois não tem afeto, é embotado. Ele não é capaz de se colocar no lugar do outro e sentir a dor que ele provocou. Mas o problema dele não é cognitivo, a razão funciona bem, ele tem a capacidade plena de distinguir o que é certo e o que é errado. Tem certeza que está infringindo a lei, mas não se importa com isso e até calcula os danos para saber o custo-benefício da ação.

DO PONTO DE VISTA FORENSE:

– Justiça e Psiquiatria como aliadas:
Segundo o psiquiatra forense, Guido Palomba, aposta na criação de uma “casa cadeia” que ofereça um tratamento psicopedagógico aos criminosos. Dar afazeres e responsabilidades aos presos. A liberdade seria baseada na periculosidade, se ela cessasse, o criminoso poderia ser solto. “É prisão perpétua? É. Você vai por a sociedade em risco? Não”, argumenta.
Outro ponto importante, de acordo com o psiquiatra, é a necessidade da mudança da mentalidade dos juízes, promotores e advogados. Eles precisam agir para que o indivíduo semi-imputável ou psicopata seja encaminhado à medida de segurança, pois a patologia não tem cura. A análise do laudo médico deve vir antes da avaliação da “leiga” opinião pública.

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Concluímos citando o filme Instinto Selvagem 2. O vídeo postado abaixo com o trailer do filme: Instinto Selvagem 2, vem ilustrar o assunto sobre a psicopatia. A atuação da atriz Sharon Stone foi impecável. Os psicopatas agem de maneira fria e calculista. O charme, a sedução, a arrogância, é a postura adotada por eles para atingir as suas presas. No filme, podemos ver que o tempo todo, a psicopata controla e manipula a mente do psiquiatra, que se deixa envolver pelo impulso e curiosidade de desvendar a mente perigosa e insana dela. O psiquiatra: sabia que não era aconselhável ir em frente, pois anteriormente havia feito um laudo para o julgamento dela na morte do seu namorado (o esportista), que morreu afogado em um acidente automobilístico, que a psicopata conduzia em alta velocidade, isto é revelado no tribunal, posto que o esportista já estava morto, quando da ocorrência do acidente, tendo como causa uma overdose de drogas. No entanto, o psiquiatra um profissional inteligente, perspicaz, perde o controle e se envolve pelo charme e erotismo da psicopata. Na verdade, ela tinha certeza que iria seduzi-lo, e vê nele uma fraqueza que não conseguia mais controlar. (Mas, também, fazia parte das fantasias sexuais dele). O caminho para o psiquiatra era manter a postura firme e profissional desde o início. Entretanto, o filme nos dá a dimensão que profissionais também estão sujeitos a cair nas armadilhas perversas desses sujeitos.

REFERÊNCIAS:

Mentes Perigosas: O Psicopata Mora ao Lado – Ana Beatriz Barbosa Silva, lançado em 2008. O livro trata da caracterização dos psicopatas e os danos que causam às demais pessoas.
SCHREBER, D.P. Memórias de um doente dos nervos. Rio de Janeiro: Paz
CAETANO, D. Classificação de transtornos mentais e de comportamento da CID-10. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.